Sócrates e oposição trocam acusações de "vergonha" e "falta de ética"

Caso 'Face Oculta' "incendiou" o debate parlamentar. Manuela Ferreira Leite acusa o Governo de ter protagonizado "ataque indigno à Justiça". Sócrates diz que o PSD transformou a "coscuvilhice em linha política"

"Escandaloso", "indigno", "uma vergonha", "uma sujeira". Foi nestes termos que decorreu ontem o confronto entre José Sócrates e a oposição, no primeiro debate parlamentar desta legislatura com o primeiro-ministro. Motivo para tanto adjectivo - o caso "Face Oculta".

Primeiro foi o PSD, depois o Bloco de Esquerda. Num e noutro caso, questionado sobre se subscreve a acusação de "espionagem política" feita por Vieira da Silva, José Sócrates deixou a pergunta sem uma resposta em concreto. Mas rejeitou que o ministro da Economia se tenha referido "a autores de espionagem política ligados a instituições judiciais". Em vez disso, apontou baterias aos "crimes de violação de segredo de justiça" e acusou a oposição de se tentar aproveitar politicamente, usando esses crimes para "efeitos de arremesso político".

O caso "Face Oculta" demorou menos de dez minutos a entrar no debate parlamentar. Pela voz de Manuela Ferreira Leite. Primeiro respondeu à acusação dos socialistas de que teria conhecimento das escutas entre Armando Vara e Sócrates - "Só me ofendo consoante as pessoas que atacam". Depois passou às palavras de Vieira da Silva. "Nunca vi um ataque tão indigno à instituição da Justiça", afirmou a líder do PSD. Mais: "Ou diz aqui se subscreve [a acusação do ministro] ou dir-lhe-ei que nem sequer tem consciência do lugar que desempenha".

Ao ataque do PSD, José Sócrates respondeu... em contra-ataque. "O que a senhora fez foi transformar a cuscuvilhice em linha política, foi lançar lama e suspeição sobre os seus adversários políticos", acusou o líder do governo. Referindo-se a uma intervenção de Ferreira Leite no Parlamento, o líder do Governo insistiu: "Pela primeira vez uma líder política subiu à tribuna para pressionar a justiça para que não destruísse provas. Quer impor decisões políticas ao sistema judicial." "A sua actuação degrada a vida política", acusou ainda o primeiro-ministro. A resposta veio pela voz do líder parlamentar do PSD, José Pedro Aguiar-Branco: "Vergonha é ser cúmplice de um ministro que acusa o sistema judicial de fazer espionagem política".

Francisco Louçã, pelo BE, voltaria ao tema. Notando que Sócrates nunca usou a expressão "espionagem política", questionou: "Considera abusivo esse termo?". "O que considero abusiva é a sua interpretação", contrapôs Sócrates. Louçã voltou à carga: "Houve espionagem política ou não?". Resposta: "Isto não é um interrogatório policial". O líder do BE questionou também Sócrates sobre se foi "económico com a verdade" quando disse no Parlamento desconhecer o negócio da compra da TVI pela PT. "Não tenho nada a acrescentar ao que disse", afirmou o primeiro-ministro - "Nunca a PT me informou das suas intenções nem eu ou o Governo transmitimos nenhuma orientação a propósito de nenhum negócio."

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG