"Se as regras estão mal, mudem as regras"
Manuel Alegre comentou ontem os últimos acontecimentos na área da Justiça, no contexto de perguntas sobre o processo "Face Oculta" (ver págs. 4 e 5), com críticas veladas à actuação dos operadores do sector. "Não se pode combater um crime com soluções que não respeitam os princípios básico de um Estado de Direito", afirmou o ex (e talvez futuro) candidato presidencial, ontem, na apresentação, em Lisboa, de um livro súmula dos vários artigos publicados pela revista da sua corrente no PS, a OPS! Revista de Opinião Socialista.
"O combate à corrupção tem de ser feito de acordo com as regras do Estado de Direito e se as regras estão mal, então mudem as regras", acrescentou o ex-deputado do PS e ex-vice-presidente da Assembleia da República."É preciso repor a decência" e que "não se misturem as duas coisas" (política e justiça), afirmou ainda.
Não foi mais específico do que isto e até evitou responder quando questionado se achava a acção das magistraturas no processo "Face Oculta" conduzida por motivos políticos: "Desculpe, não vou falar disso. Tenho ideias sobre isso mas não vou falar." Considerou apenas ser "muito preocupante" a "tensão" entre a política e a justiça.
Alegre aproveitou a oportunidade para voltar a elogiar a "nova atitude dialogante" do Governo. Mas, ao mesmo tempo, criticou as dificuldades no diálogo entre os partidos de esquerda: "É incompreensível que as esquerdas não encontrem soluções políticas que correspondam à vontade do seu eleitorado". Revelou-se céptico sobre a possibilidade de um entendimento mais global na esquerda parlamentar: "Gostaria, mas vai ser difícil porque nas esquerdas há modelos políticos e concepções de sociedade distintas."