Rui Bento: temporada taurina tem de contar com diversidade cultural de Lisboa
A temporada taurina do Campo Pequeno arranca hoje com grandes regressos, novos talentos e horários e a celebração de nomes como João Moura e Rui Fernandes. Rui Bento, diretor do Campo Pequeno, conta todas as novidades.
Na época taurina que hoje arranca, celebram-se os 40 anos de alternativa de João Moura. O que significa isto para o Campo Pequeno?
Embora a alternativa de João Moura tenha tido por cenário a Praça de Toiros de Santarém, o Campo Pequeno tem um significado muito especial na imponente trajetória artística de João Moura. Por isso iremos celebrar esse facto e esses feitos numa corrida muito especial, a 7 de junho, com o Maestro acompanhado pelos dois filhos cavaleiros, Moura Júnior e Miguel Moura, e pelo sobrinho João Augusto Moura (novilheiro). É uma data para festejar, pois João Moura mantém-se no ativo, influenciou profundamente o toureio a cavalo e a sua leitura artística do toureio a cavalo influenciou totalmente as gerações vindouras, tanto em Portugal como em Espanha.
Disse que esta será uma época torista. Porquê?
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Essa designação significa aquele tipo de ganadarias mais "encastadas", daquelas que nem sempre facilitam a vida aos toureiros. São linhagens de grande exigência técnica e não admitem indecisões a quem os lida, exigem entrega total do artista. E, quando o toiro sente essa entrega, ele próprio acaba por se render à sua arte e conhecimento. Neste grupo há ganadarias que, de há uns tempos a esta parte, não lidavam no Campo Pequeno.
Escolheu os cavaleiros Rui Fernandes (que aqui recebeu alternativa há 20 anos), Moura Jr. e João Telles Jr. na lide de touros de António Silva, além dos forcados amadores de Santarém e de Montemor-o-Novo para esta noite. Porquê estes nomes?
Rui Fernandes por ser um dos mais prestigiados da atualidade, com saídas em ombros em todas as principais praças de Portugal, Espanha e França e que se encontra num grande momento quer artístico quer anímico. Moura Jr. e Telles Jr. por serem os da nova geração que se têm destacado. Moura Jr. com importantes triunfos alcançados em 2017 no Campo Pequeno e Telles Jr. que reaparece em Lisboa depois de um ano de ausência. Três cavaleiros, três estilos e artistas que prometem competição, numa grande noite. Relativamente a forcados, Santarém e Montemor são os mais antigos de Portugal, cultivam entre si uma grande e sã rivalidade e fazem da arte de pegar toiros um hino à valentia e à classe. Também de regresso está a ganadaria do Dr. António Silva, que se encontra num grande momento e apartou para a corrida um curro de toiros magnífico.
Há outros grandes nomes como Pablo Hermoso de Mendoza e José María Manzanares ou António Ribeiro Telles, mas também se abre a porta à nova geração. Há muito valor por descobrir?
Há jovens com vontade de ser toureiros, a pé e a cavalo. Particularmente no toureio a pé há que destacar o grande trabalho que as escolas têm feito. No Campo Pequeno, sentimos que manter uma academia de toureio é um imperativo que resulta da nossa condição de primeira praça do país. Apoiamos jovens que querem ser toureiros, elucidamo-los dos sacrifícios pessoais que a profissão e a escolha comportam e damos-lhes o treino básico quer teórico quer prático essencial para que venham a desenvolver a sua personalidade artística.
Neste ano, as corridas têm novo horário e deixa de haver intervalo. O público não estranhará a mudança?
Fizemo-lo para satisfazer quem tem de trabalhar à sexta-feira e quem vem de longe. Temos consciência de que três horas de espetáculo é muito tempo e julgamos ser possível eliminar tempos mortos. Eliminámos o intervalo e antecipámos o começo das corridas para as 21.45, para comodidade do público.
Pode haver mais mudanças, até para fugir aos jogos do Mundial e festivais?
Vamos fazer um teste com a novilhada de promoção, no sábado 28. Se resultar, estaremos abertos a novas experiências. Nos anos 1960, a temporada em abril e maio tinha corridas ao domingo à tarde, de junho a agosto era o tempo das noturnas à quinta-feira e entrando outubro regressava-se às tardes de domingo. Hoje para programar uma temporada há que ter em conta a diversidade e a qualidade da oferta cultural de Lisboa.
Há também vontade de atrair turistas?
É crescente o número de turistas despertado para os espetáculos tauromáquicos do Campo Pequeno. Os turistas sempre constituíram um segmento de mercado muito interessante nesta praça.
O preço dos bilhetes é por vezes um fator dissuasor. Poderá ser revisto?
Como espetáculo que atravessa todos os estratos da sociedade, procuramos ter bilhetes que permitam que, independentemente da condição económica, o espectador possa ver o espetáculo a um preço justo. Estabelecemos a nossa bilheteira adequando-a aos custos de cada cartel, os preços variam entre 7,5 e 85 euros. Temos descontos para jovens e reformados em determinados lugares e praticamos, como as grandes praças mundiais, o Abono, ou seja, compra de lugar cativo, que tem um desconto de 20% a 50% sobre o preço total. Também para a juventude temos um abono especial com desconto de 50%.
Em que ponto está o processo de venda do Campo Pequeno?
Não sou a pessoa indicada para falar de tal assunto, pois não tenho informação.