Quase 100 advogados contra bastonário devido a coadoção
Quase uma centena de advogados estão contra o bastonário por considerarem que fez declarações "discriminatórias" a propósito da adoção de crianças por casais do mesmo sexo, lei aprovada na generalidade a 17 deste mês, no Parlamento.
Numa carta aberta a que a agência Lusa teve acesso, os 94 advogados subscritores "desvinculam-se, em toda a medida, da posição assumida e assinada" pelo bastonário, que elaborou parecer sobre os projetos de lei do PS e do BE que consagram a possibilidade de co-adoção pelo cônjuge ou unido de facto do mesmo sexo.
Nesse parecer, o bastonário da Ordem dos Advogados (OA) refere que "esse pretenso direito [de adoção] colide frontalmente com o direito das crianças a serem adotadas por uma família natural".
Consideram os advogados que "nunca foram ouvidos", discordando da posição de Marinho e Pinto "por entenderem ser uma posição de caráter manifestamente discriminatório".
"O parecer da OA, de facto, não representa nem espelha a opinião de todos os advogados e que, por isso, o mesmo carece de base representativa, para além de carecer de fundamentação sociológica e científica".
Os advogados subscritores realçam que a carta aberta ao bastonário foi assinada por profissionais "a quem nunca foi questionada a sua orientação sexual e que lamentam profundamente" as declarações de Marinho e Pinto em defesa do parecer da OA "contra ventos e marés, ainda que incomode os colegas homossexuais".
No entender dos advogados, as declarações revelam "bem o preconceito subjacente, quer à tomada de posição concreta sobre iniciativas legislativas, quer à reação da defesa da adoção por casais do mesmo sexo, que é, no caso, subscrita por variadas pessoas, independentemente da sua orientação sexual".
"Recusamos qualquer identificação ou conotação com o parecer da OA, entendendo que [o bastonário] não respeita os princípios enformadores do Direito, carece de fundamentação factual de suporte e ilegitimamente assume uma posição que, certamente, uma parte muito significativa dos advogados deste país não subscreverá", refere-se na carta aberta.