Quanto tempo irá durar a geringonça?

Há quem considera que o acordo à esquerda está condenado a perdurar. Mas também há quem anteveja crise política para meados de 2017

2016 será um ano de congressos para os três principais partidos da plataforma que dá suporte maioritário no Parlamento ao governo liderado por António Costa. O do PS no princípio de junho, o do BE em outubro ou novembro (antes ou a meio da discussão do Orçamento do Estado para 2017) e o do PCP no início de dezembro (com esse OE já votado). De todos, o que levanta mais expectativas é o do PCP.

No do PS será consagrada (com pouca ou nenhuma oposição interna) a liderança de António Costa, restando saber se nessa altura José Sócrates já estará, ou não, liberto da operação Marquês. No do Bloco, poderá ser reforçado o estatuto de Catarina Martins (que agora é só porta-voz do partido, como Louçã foi durante anos até ascender a líder). Já no dos comunistas todos os olhos estarão em Jerónimo de Sousa (que nessa altura estará na liderança do partido há 12 anos). Será novamente eleito secretário-geral?

Ouvido pelo DN, Pedro Adão e Silva, comentador político ideologicamente conotado com o PS (foi membro da direção do partido durante a liderança de Ferro Rodrigues, de 2002 a 2004), afirma que "o acordo está condenado a perdurar". "Quem romper será muito penalizado por isso", prossegue, antevendo que "a haver problemas, eles não serão económicos [ou seja, decorrentes da evolução da economia], mas antes políticos".

Ora, aqui, a data que Adão e Silva sublinha é a das próximas autárquicas (outubro de 2017, mais ou menos quando terá de ser apresentado o Orçamento do Estado para 2018). O PCP tem algum peso autárquico e aí poderão surgir tensões com o PS (que é atualmente o maior partido no poder local). "Não se percebe como poderão ser aliados a nível nacional combatendo-se depois a nível local."

Para Marques Mendes, este [as autárquicas de 2017] poderá mesmo ser "o momento crítico" que ditará o fim daquilo a que Paulo Portas já chamou a "geringonça". Segundo o ex-líder do PSD, a plataforma de esquerda deverá sobreviver a 2016, em parte porque Bruxelas se mostrará flexível face ao Orçamento que dentro de semanas entrará no Parlamento. Antecipando que "só muito dificilmente" a aliança de esquerda conseguirá durar a legislatura toda, Marques Mendes antevê os primeiros "problemas sérios" por ocasião da discussão do Orçamento do Estado para 2017. "E o que pode dar problemas sérios é Bruxelas." Ou seja, para o OE 2017 já não haverá flexibilidade e António Costa poderá ser obrigado a medidas de austeridade. Aí, o BE e o PCP poderão ser obrigados a "saltar fora". E, como Passos já disse que nunca dará a mão a Costa, este ficará sem apoio, o que ditará a queda do governo e eleições antecipadas.

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