Professores criticam manuais
Editora Leya acusada de lançar livros sem qualidade com base em sugestões dispersas dos docentes.
Os quatro manuais escolares que vão ser comercializados pela Leya já no próximo ano lectivo, com base em sugestões de dois mil professores, vão ser "uma manta de retalhos" e não terão a "qualidade necessária". As opiniões são partilhadas por professores e pais. Paulo Guinote, professor e autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, que se recusou a participar neste projecto, lamenta mesmo o facto de a editora se ter aproveitado das ideias dos professores sem qualquer contrapartida financeira para os mesmos, facto que considera "inédito".
Os quatro manuais escolares - de Matemática, Ciência da Natureza, Geografia/História, para o 5.º ano, e Português, para o 7.º (cuja capa ainda não está disponível) - poderão já ser utilizados no ano escolar 2010/2011. Francisco Heitor, director de Marketing Escolar da Leya, confirmou ao DN a não remuneração, mas garantiu que "estes professores tiveram acesso ao projecto em primeira mão, bem como acesso a conteúdos exclusivos para experimentação em sala de aula". Segundo a editora, foram dois mil professores que semanalmente, desde Setembro de 2009, responderam às dúvidas da editora através do site criado com esse fim - método que tem semelhanças com a Wikipedia (ver em baixo).
Raquel Pereira Henriques, da Associação de Professores de História, que também se recusou a colaborar no projecto, admite que não aceitou porque não considerou a proposta "viável", nem considerou que tivesse " grande credibilidade". Um dos motivos, como a professora de História explicou ao DN, foi o método usado pela editora: "As questões não eram muito complexas e ainda por cima pediam as nossas respostas de forma sucinta e com número limitado de caracteres", sublinhou Raquel Pereira Henriques. "Mas parece-me que os professores são livres para fazer o que entenderem e os que participaram deviam saber ao que iam", concluiu.
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Albino Almeida, da Confederação Nacional de Associações de Pais, também não crê "que isto sirva para alguma coisa", explica o representante dos pais. "Até porque estão a pôr em causa a inteligência e a capacidade dos professores", concluiu. Além disso, acrescenta Paulo Guinote, "não faz sentido que os professores que tenham participado não tenham nenhuma contrapartida".
Porém, apesar de a qualidade estar a ser questionada, este projecto obteve a certificação oficial do Ministério da Educação. Segundo Francisco Heitor, "neste projecto não nos limitámos a recolher sugestões, interagimos com a comunidade e fomos tentando chegar a consensos. Todos os que participaram e foram ao site puderam verificar in loco de que forma as suas sugestões estavam a ser acolhidas", concluiu o editor.
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