Porto escolhido para candidato a agência entre críticas de Lisboa
Rui Moreira defendeu que valeu a pena "levantar a voz" e elogiou recuo do executivo socialista. Fernando Medina critica condução do processo e fala em "opção política"
O Porto levantou a voz e fez-se ouvir na reunião do Conselho de Ministros de ontem, com o Governo a optar por apresentar a cidade como candidata à instalação da sede da Agência Europeia do Medicamento (EMA, na sigla inglesa), depois de o próprio executivo socialista ter dito que este era um dossiê fechado e de uma candidatura só, a de Lisboa.
"Queria dar nota da minha satisfação por ter valido a pena levantar a voz. Queria saudar o Governo, o senhor primeiro-ministro e o ministro da Saúde, que souberam em tempo olhar para o argumentário da cidade do Porto", apontou ontem o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, falando aos jornalistas nos Paços do Concelho. "Eu sei que muitas vezes voltar atrás nas decisões não é fácil, mas, quando assim é, devemos agradecer e salientar o mérito do Governo na decisão de reabrir um processo que parecia estar fechado."
Apesar do autarca ter insistido na qualidade técnica da candidatura do Porto, acabou por reconhecer que esta terá sido uma decisão política: "Pode ter pesado", disse, o facto de Lisboa ter "já duas agências europeias".
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Já para o presidente da Câmara de Lisboa não há dúvida alguma sobre esta "opção política": "Lisboa tem duas agências, o Porto não tem, vejo isso com naturalidade." Em entrevista ao DN/TSF, que será emitida no próximo domingo, Fernando Medina deixou reparos à forma como o executivo de António Costa geriu a candidatura à agência: "O processo não foi particularmente bem conduzido por parte do Governo. No início só havia uma escolha, que seria Lisboa, foi nesse contexto que se trabalhou. O Governo não se apercebeu de imediato que o Porto também reuniria as condições, apercebeu-se depois, neste momento."
As condições do Porto para acolher a EMA são várias, como sintetizou Rui Moreira. "Não devemos minimizar as possibilidades que o Porto tem. O Porto é uma cidade extraordinariamente atraente. Tem qualidade de vida. Não tem dificuldade em encontrar localização. Tem um custo de vida competitivo." Outro fator que deve pesar, defendeu depois o presidente do Conselho Metropolitano do Porto, Emídio Sousa, é o facto da região Norte ser "uma das mais pobres da União Europeia". "Mais importante que alguns milhões dos fundos [europeus], é que a coesão se faça através destes investimentos", completou o também presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, ao lado do autarca do Porto.
O tempo agora, sublinhou Rui Moreira, é da diplomacia, para mostrar que o menu do Porto "é o melhor". "A partir de agora, já não é o Porto que tem de fazer. É Portugal que tem de fazer. Temos de fazer tudo para disputar um campeonato que não é fácil", apontou o autarca.
O Governo destacou que o Porto é a cidade portuguesa que "apresenta melhores condições para acolher a sede daquela instituição", nas palavras da ministra da Presidência, Maria Manuel Leitão Marques. O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, sublinhou que Lisboa e Porto eram "ambas candidaturas muito fortes e competitivas", justificando o Porto "pela dinâmica não só do tecido empresarial e económico mas também pela aposta nas ciências da saúde, nos polos de investigação, e pela nova centralidade que representa no eixo importante não apenas de Portugal e da península Ibérica".
O socialista Manuel Pizarro, que falou no passeio fronteiro à Câmara do Porto, argumentou que a cidade e as instituições foram "capazes de esgrimir os argumentos certos". E para o diretor do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, António Sousa Pereira, trata-se de "uma mudança de paradigma" a decisão do Governo. Falta saber se a Europa acolherá esta pretensão.