Pessoas sem estudos têm muito mais diabetes
A doença afecta 30% das pessoas que não têm formação e apenas 6% das que têm formação superior, segundo dados de 2009 do Observatório Nacional da Diabetes.
"Acabei de dizer a um doente de 70 anos que está sempre mal compensado. Ele diz que toma a medicação, mas eu acredito que ele não tome ou falhe as doses correctas", conta ao DN o endocrinologista Luís Gardete Correia. Orlando (nome fictício) tem "poucos recursos económicos e não tem sequer a quarta classe". A falta de escolaridade está mais ligada à obesidade e à diabetes. No relatório do Observatório Nacional da Diabetes, que é hoje apresentado, identificou--se que a prevalência da doença é de 30% na população analfabeta, cinco vezes mais do que na que tem formação superior. Há 980 mil casos desta doença e 57 mil novos doentes por ano.
José Manuel Boavida, coordenador nacional do Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Diabetes, disse ao DN que "há uma grande relação entre a diabetes e o nível educacional". Se a população universitária tem uma prevalência de 6,6% da doença, no ensino secundário, a percentagem sobe a 7,9%. No primeiro ciclo, 19,5% das pessoas identificadas no estudo têm diabetes, ainda assim, menos do que os 30% das que não sabem ler nem escrever.
A mesma relação existe com a obesidade e o excesso de peso. "O estudo mostra que 90% das pessoas com diabetes têm peso a mais", avança o médico. "Acima do índice de massa corporal de 30 (obesidade), a prevalência da doença é de 19,5%, enquanto apenas 5,5% das pessoas com peso normal têm diabetes. São dados novos que integram este relatório".
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Luís Gardete, coordenador do observatório, sabe que "as pessoas mais informadas se defendem mais. Lêem mais livros, procuram mais informação e sabem que não devem encher o prato e que alimentos não comer, como as batatas fritas", refere. O poder económico está claramente associado à obesidade e diabetes: "Sem recursos, as pessoas comem coisas mais baratas, mais calóricas e gordurosas, um problema que sobe com a crise."
Silvestre Abreu, o coordenador do programa na Madeira, diz que a obesidade "é a principal causa da doença. E ponto final. As pessoas obesas são mais resistentes à insulina e são mais resistentes à medicação. Se não actuar, as pessoas estão mais susceptíveis a complicações", como a retinopatia ou as amputações. "Explico sempre que basta perder 5% a 10% do peso para ter melhores resultados."
O estudo de prevalência da diabetes revelou que 11,7% dos portugueses com mais de 18 anos tinham diabetes. Os novos dados apontam que em 2009 12,3% da população (980 mil pessoas) tinham a doença, mas 44% (430 mil) estavam por diagnosticar. "Os homens são mais afectados, já que 14,6% têm a doença", diz Boavida. Em 2009 foram detectados 571 novos casos por cem mil habitantes, ou seja, cerca de 57 mil.
O coordenador refere que "já houve melhorias no tratamento, articulando os vários níveis de cuidados. Agora temos de apostar mais na formação e apoio dos comportamentos saudáveis. Mas os esforços não podem vir apenas do sector da saúde, mas também das autarquias, escolas, entre outros".
Também a formação da população deve ser mais trabalhada. Os doentes têm de tratar de si próprios. "Para isso também é importante que haja mais enfermeiros com capacidades reconhecidas nesta área, além do papel dos médicos de família."