Os populares que estão à espera do autocarro na paragem do comboio

Da Lousã para Coimbra, a linha ferroviária foi levantada. Estações foram renovadas e parques de estacionamento construídos, mas ninguém os usa. PCP foi ver este ramal que vai para lado nenhum

Troque-se as voltas à canção: na Lousã ou em Miranda do Corvo, os populares estão à espera do autocarro na paragem do comboio. Até Coimbra, o autocarro de 49 lugares sentados (nas curvas da serra da Lousã ninguém pode viajar de pé) faz as vezes do comboio que deixou de haver e do metro que nunca chegou a existir. É assim desde 2010, quando foram levantados carris e travessas do ramal da Lousã, para desespero das populações que eram servidas por esta linha entre Coimbra e Serpins.

O edifício da estação da Lousã está entaipado, os painéis de azulejos protegidos por alcatifas, com um aviso de que foram "inventariados pela Refer, com o apoio da Polícia Judiciária e do Projeto SOS Azulejo" e que, "em caso de furto, as respetivas fotos serão divulgadas na internet e os autores/recetadores (bem como os autores de atos de vandalismo) serão perseguidos criminalmente". À vista de todos, o crime é outro: há um canal aberto para circulação de comboios, rotundas construídas no caminho da linha, apeadeiros e estações que foram renovados sem uso e parques de estacionamento sem carros.

"É o mau uso de dinheiros públicos", queixa-se Mário Silva, do movimento de utentes do ramal, que esta terça-feira de manhã recebeu uma comitiva de deputados comunistas, no âmbito das jornadas parlamentares do PCP. O líder da bancada do partido, João Oliveira, recorda que a 3 de abril foi publicada em Diário da República uma resolução do PCP que pedia a reposição da linha, eletrificada e modernizada.

"Só o PS votou contra", lê-se no cartaz que os comunistas colocaram nas paragens do autocarro. "Neste momento, aquilo que se trata é de cumprir o que foi aprovado", defende João Oliveira aos jornalistas, na Lousã, e o que foi aprovado "é uma resolução da Assembleia da República que comporta três elementos: modernização, requalificação e eletrificação do ramal da Lousã", mas também a extinção da empresa Metro Mondego. O líder parlamentar do PCP diz esperar que, "ainda em 2017", o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas "possa dar concretização aquilo que foi aprovado, tão depressa quanto possível".

Depressa é como não se chega agora: Lousã a Coimbra fazia-se em pouco mais de meia hora, no comboio desmantelado; o autocarro leva uma hora e dez minutos para atravessar a serra até à capital de distrito. As placas nas paragens do autocarro têm o símbolo da Metro Mondego, os horários e os bilhetes vêm com a marca da CP. Entre uma e outra, o autocarro é fretado a uma terceira empresa.

"A situação é insuportável para as classes mais desfavorecidas", lamenta-se Celeste Garção Nunes, outra utente, afirmando que muitas pessoas deixaram de ter como poder ir até Coimbra ao médico. "A alternativa ao comboio é o comboio", completa João Oliveira. O desperdício salta à vista de quem, desde há sete anos, está à espera do autocarro na paragem do comboio.

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