O professor que faz acontecer em Santa Maria

Juan Nolasco é mais do que nome em Vila do Porto. Tem um significado especial, sobretudo entre os mais novos: o gosto pelo desafio e por chegar mais longe. É o professor do mês de outubro.

Quem sai com frequência do local de trabalho pelas 23.00 e depois ali regressa ainda antes das 08.30 do dia seguinte, é no mínimo empenhado. Mas acentua essa característica se colocar por diversas vezes o trabalho acima do lazer aos feriados, fins de semana e até em períodos de férias. É ainda algo mais extraordinário quando esse frenesim profissional acontece numa ilha pacata como Santa Maria, mobiliza a juventude, triunfa entre os melhores da Europa e consegue projetar o nome dos Açores além-fronteiras. No principal centro urbano da ilha mais pequena do Grupo Oriental do arquipélago, com pouco mais de 5 mil habitantes, as respostas convergem para um nome espanhol, mas de sangue português: Juan Nolasco. Por uma questão de realização pessoal, deixou a vida de engenheiro eletrotécnico para lecionar informática na Escola Básica e Secundária (EBS) de Vila do Porto, onde se encontra desde 2009. É o que se chama de workaholic.

Quem lida com este homem calmo e ligeiramente tímido não fica, pelo menos à primeira vista, com a ideia de ele ser hiperativo. Mas é, e de que maneira, proativo. Basta olhar para a lista de projetos em que já se envolveu desde 2010, ligados à ciência e tecnologia, para se perceber o seu "bichinho" inventivo e empreendedor. Ao todo são 11 projetos - regionais, nacionais ou internacionais - que receberam a sua chancela, onde, se não atingiu a primeira posição, ficou entre os melhores. Descobre-os na Internet e, por vezes, relaciona-os. Depois, incentiva o gosto pelo desafio junto dos alunos, aproveita o que há de melhor neles e delega-lhes responsabilidades no respeito pelo espírito de equipa. E pronto, como diz o colega brasileiro Carlos Cruz, o professor "faz acontecer". Não força ninguém e as relações humanas nas suas turmas desenvolvem-se sob uma matriz praticamente profissional.

O docente de História, originário do Brasil, salienta o carácter "construtivo e positivo" de Juan, que con-segue elogiar e agregar valores, mesmo quando os pupilos não fazem nada de brilhante. Entre risos, Carlos Cruz compara-o ao artista de circo que se desdobra em malabarismos: "Podia deixar de fazer tantas coisas ao mesmo tempo. É como o homem que está, simultaneamente, a manejar facas, bolas, fogo... Às vezes temos de dar uma 'freiada'."

O amigo João Fontes não destoa e fala de Juan Nolasco como uma pessoa "muito motivada e responsável". Frisa a preocupação que tem com a aprendizagem e equilíbrio dos alunos. Presidente do Conselho Executivo da EBS de Vila do Porto, João Fontes valoriza o facto de o professor de informática participar na manutenção do parque informático e rede de telecomunicações da escola, o que permite a poupança de milhares de euros a cada ano letivo, já que o estabelecimento de ensino dispensa a contratação de técnico de informática e não tem de pagar a nenhuma empresa para assegurar o serviço.

Na vida, Juan Nolasco não se afirma apenas como homem das ciências exatas. Tem também uma dimensão humanista que se traduz no ensino de cidadania e educação empreendedora a jovens. Mariana Moreira, de 17 anos, frequenta o 12.º ano e descobriu, com a sua ajuda, que quer formar-se na área de engenharia aeroespacial. Diz que a forma de trabalhar de Juan, ao relacionar aulas e projetos, é "apelativa e dá para querer fazer mais e melhor". Jerry Cunha, igualmente de 17 anos, considera-o uma "pessoa inteligente, criativa e com muita vontade de levar os jovens para as áreas científicas".

O DN viu o professor em ação. Não dá nas vistas, mas é eficaz. Os miúdos acatam as suas orientações de forma cooperante. Numa das sessões deparou-se com um novo desafio, que passa por candidatar um grupo de estudantes da EBS de Santa Maria para se deslocar ao Campo de Férias da NASA, nos Estados Unidos. À emoção e dúvidas que ecoaram na sala de aula sucedeu a afirmação concludente: "Se não tentarem, não vão lá." Nesta frase assenta toda a sua motivação, que é "fazer com que os alunos descubram o que lhes quero transmitir". Confessa que o prazer máximo se dá quando vê os alunos "construir o seu conhecimento de forma individual".

Entre as aulas, projetos e o apoio que nunca nega a quem requer a sua ajuda, sobretudo na área dos computadores, sobra pouco para este engenheiro eletrotécnico ocupar os tempos livres. Está com a sua esposa quando esta tem possibilidade de se deslocar a Santa Maria e, pontualmente, convive com os amigos - a melhor altura, diz quem sabe, para apreciar o seu humor refinado...

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