Bombeiros sem direção e com passivo de 230 mil euros
Os bombeiros de Monção realizam, na sexta-feira, a quarta assembleia-geral desde que em fevereiro se instalou a crise diretiva na instituição, mas ainda sem qualquer garantia de futuro.
"Será a quarta assembleia, entre as quais duas eletivas desconvocadas porque não apareceu nenhum candidato. Agora, vamos fazer um ponto de situação e esperar que alguém queira liderar os destinos da associação", disse hoje à Lusa o presidente da assembleia-geral da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Monção.
Segundo Emílio Fontainhas, apesar do vazio diretivo criado a 21 de fevereiro, com o anúncio da demissão da direção, eleita um mês antes, seguida, a 26 de abril, pela renúncia efetiva ao cargo destes elementos, já foi possível reduzir o passivo da corporação em 50 mil euros.
"Era de 280 mil euros quando estes órgãos tomaram posse e agora é de 230 mil. Isso foi possível com muito empenho de todos, nomeadamente em peditórios e nas cobranças entretanto realizadas", acrescentou.
Números que serão apresentados aos associados na sexta-feira à noite, em assembleia-geral extraordinária, numa altura em que a corporação já é liderada por uma comissão administrativa entretanto nomeada.
A 21 de fevereiro, a direção apresentou a demissão, um mês depois de vencer as eleições e alegando a situação financeira herdada da gestão anterior, que afirmou desconhecer.
Uma assembleia-geral eletiva chegou a ser marcada para 20 de março, mas acabou por não se concretizar devido à falta de listas candidatas, o mesmo acontecendo com a segunda, agendada 04 de maio.
"Entretanto, vamos ver se aparece alguém. Se isso não acontecer até final de maio, e porque a corporação não pode continuar a andar ao Deus dará, eu próprio me encarregarei de convidar alguns sócios para formarem uma lista para a direção já em junho", garantiu o presidente da assembleia-geral, excluindo, no entanto, qualquer intenção de liderar a associação.
A situação "preocupante" vivida pela corporação tinha sido admitida à Agência Lusa pelo comandante da corporação, José Passos, face à demissão seguida de renúncia apresentada pela direção daquela associação.
É que dos cerca de 200 mil euros em dívidas a fornecedores, 60 mil euros são relativos ao abastecimento de combustíveis da corporação, que nesta altura já é feito apenas a crédito.
"Quando as pessoas assim não o entenderem [abastecer a crédito], entramos em rotura", admitiu José Passos.
Lembrou, ainda, que só os hospitais devem mais de 100 mil euros à corporação, referentes a transportes de doentes.
Todos os meses, a fatura com combustíveis chega aos 7.000 euros mas, na época de fogos florestais, dispara para quase 12.000 euros. A curto prazo, admite José Passos, a corporação pode mesmo ter de começar a fazer opções, entre o socorro e combate a fogos florestais.
"Caso não se tomem medidas, os fornecedores com dívidas maiores poderão querer receber a curto prazo e nós não temos fundo de maneio. Podemos ficar sem alternativas", acrescentou o comandante.
Entretanto, com a época de fogos florestais à porta, a apreensão com o futuro já tomou conta dos bombeiros.
"Temos 21 pessoas cá a trabalhar, são 21 famílias. Estamos cá para servir, mas também temos a parte social inerente ao nosso serviço", sublinhou José Passos, que nesta altura admite que, embora sem salários em atraso, todo o planeamento está a ser feito sem certezas de futuro.