Medina procura à esquerda a maioria que lhe escapou

PCP afasta possibilidade de replicar a geringonça nacional na capital. Mas autarca socialista vai falar à sua esquerda

Falhada a maioria para governar em Lisboa, o socialista Fernando Medina vai procurar junto do PCP e do BE a sua própria geringonça lisboeta para viabilizar o executivo municipal na capital. O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, fechou ontem a porta a uma réplica da geringonça nacional, enquanto que o BE discutia noite dentro os resultados das eleições de domingo - e o que fazer também em Lisboa.

Para o PS (acompanhado do Livre e dos movimentos independentes Cidadãos por Lisboa e Lisboa é Muita Gente), a vontade é a de dialogar à esquerda, com os comunistas e bloquistas. Para a equipa do autarca eleito, o receio é uma eventual recusa dos dois partidos que se entenderam com o PS nacional, PCP e BE. Ou se, recusando um, o outro aceita.

Na noite eleitoral, Medina antecipou a disponibilidade para distribuir pelouros. "Qualquer que seja o resultado, procuraremos alargar a base política, no sentido de termos mais apoio para as políticas que vamos concretizar", disse, prometendo atribuir pelouros aos vereadores da oposição, "caso haja essa vontade".

No final da reunião do Comité Central comunista de ontem, Jerónimo de Sousa foi taxativo: "Não vai haver repetição da solução encontrada nesta fase da vida política nacional", atirou. E concretizou sobre a capital, onde o PCP: "Em Lisboa, não existirá essa possibilidade de encontrar um modelo parecido", disse, referindo-se à geringonça. Mas, garantiu o líder comunista, "a única coisa que não vão encontrar por parte da CDU é uma posição de destruição ou de bloqueio".

No campo do Bloco de Esquerda, não havia ainda certezas sobre o caminho a seguir. Ou melhor, há uma convicção, e essa foi definida por Ricardo Robles na noite eleitoral (quando se pensava que Fernando Medina chegava à maioria): o BE está "disponível para uma viragem política na Câmara de Lisboa e isso significa ir ao que não foi feito nos últimos quatro anos - habitação, transportes, equipamentos nas escolas e creches", afirmou o vereador eleito, quando questionado sobre uma eventual aliança com o PS, reafirmando o que tinha dito durante a campanha eleitoral.

Os bloquistas fizeram-se à estrada para tentar travar uma maioria absoluta dos socialistas em Lisboa. Ricardo Robles elogiava, dias antes das eleições, a solução da geringonça nacional, sublinhando o facto do PS não ter maioria. "Eu acho que as pessoas reconhecem que a sua vida está a mudar, que foi resgatada a esperança porque não houve uma maioria absoluta do PS no país. Em 2015 houve essa mudança, há uma alteração de paradigma. Houve sempre a chantagem da maioria absoluta no país e agora demonstrámos o contrário. Ruiu essa ilusão. Não são as maiorias absolutas, é a convergência política, são os compromissos políticos em que todos podem participar", apontou, na entrevista ao portal Sapo. E rematava: "Em Lisboa precisamos não de uma maioria absoluta, mas de compromissos sérios para uma viragem à esquerda."

O vice-presidente da Câmara de Lisboa, Duarte Cordeiro, notou (num post publicado na página do seu facebook) abriu a porta aos "homens e mulheres de esquerda", notando que "com estas eleições abre-se um novo capítulo da história do PS na nossa cidade". Esse capítulo, disse, vai permitir "ter uma profunda confiança no futuro da cidade e na renovada liderança do PS, com Fernando Medina e todas as mulheres e homens de esquerda, que acreditam numa cidade melhor, mais aberta, mais igual e com mais oportunidades para todos".

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