Marchas seduzem mais novos e agarram históricos bairristas

Há o caso de Belém, marcha que apenas participa desde 2009 e já sente o orgulho de desfilar. Sentimento que Alto do Pina, vencedor do ano passado, e Carnide possuem também mas com uma superior dose de experiência.

Belém

Caloira das marchas ambiciona prémio

Nasceu em 2009 e desde então tem marcado presença com o seu bom humor e empenho. No ano passado, Belém alcançou o 15.º lugar, posição que o ensaiador, Humberto Nunes, considera "uma grande vitória". "É uma marcha muito recente, não pode lutar contra anos e anos de tradição. Temos é de mostrar um bom trabalho!" Está envolvido neste projeto desde o início e, tal como os anos anteriores, vão apostar no tema "Belém: Cais de Partida", explicando que "as mulheres vão como ninfas do Tejo e os homens como marinheiros".

Para Daniela Costa, 25 anos, e Joana Xisto, 24 anos, começou tudo como uma "brincadeira e vamos lá ver como acaba". Renderam-se ao encanto das marchas e são das mais velhas, já com quatro anos de casa. Tinham pouca ou nenhuma experiência em marchas e agora já vão ensinando aos novos participantes alguns passos de dança mais complicados. E mesmo os sacrifícios que Joana Xisto tinha de fazer não a desmotivaram: "Na altura morava na Margem Sul, por isso tinha de ir e vir, mas nada disso interessava. Era algo que fazia com gosto!"

O responsável e também presidente do Belém Clube, José Caroço, conta como lhe sugeriram esta ideia e logo pensou: "Porque não? Vamos lá experimentar!" Tem noção que esta é uma marcha nova que ainda tem muito para aprender. "É impossível competir com anos e anos de tradição! Eles já sabem o que fazer, nós ainda estamos a aprender, mas um dia vamos apanhá-los."

Foram já a primeira marcha a apresentar-se no Pavilhão Atlântico, com as cores rosa, azul e branco a destacarem-se. Resta apenas aproveitar os últimos dias para ensaiar os passos e treinar a letra para que nada falhe e possam trazer para casa o tão aguardado 9.º lugar. "Queremos acima do 10.º lugar! Para nós já ganhamos se ficarmos em melhor posição do que o ano passado", são as palavras de Daniela Costa, que nunca falta a um ensaio e vai ajudando os mais novos com os passos mais complicados. "Esta marcha já é o nosso coração."

Alto do Pina

Nem a emoção de casar é maior que a de marchar

Após dois anos consecutivos a arrecadar o primeiro lugar nas Marchas Populares de Lisboa, é com o peito cheio de orgulho e confiança que a Marcha do Alto do Pina encara a 81.ª edição das Festas de Lisboa. Os anos 2011 e 2012 ficarão marcados na memória dos 50 marchantes pela conquista do primeiro lugar, depois de tantos anos em lugares minoritários. Sob a liderança do coreógrafo Carlos Mendonça, este grupo ensaiou, diariamente, na Escola Secundária Artística António Arroio, para "serem perfeitos, sempre", disse Vítor Ferreira, o coordenador da marcha.

Afirmam não ter nenhuma fórmula de sucesso, apenas "muito amor à marcha, rigor e dedicação" e, este ano, com o tema "Chegada dos Portugueses à China" - uma homenagem à nação e às cores da bandeira portuguesa, verde e vermelho - desejam conquistar os votos do júri e consagrarem-se novamente vitoriosos. "Seria muito importante para nós, seria a confirmação da qualidade do nosso trabalho", explicou o coordenador da marcha.

Vítor Ferreira já soma 16 anos de experiência como marchante "sempre pelo Alto do Pina, o meu bairro do coração" e a culpada por este "grande amor" é a sua mulher, Carla Ferreira, que desde os 13 anos participa nas Festas de Lisboa.

Tudo começou com um namorico de miúdos. "Nós começámos a namorar, já ela marchava há dois anos. A Carla começou a pedir-me para vir ver e experimentar... Tantas vezes pediu, que decidi entrar e nunca mais parei", recorda.

Ao longo dos anos de namoro, a emoção e alegria em participar nas festividades lisboetas cresceu tanto que, no dia 12 de junho de 2004, o casal decidiu "dar o nó" e ser um dos 16 casais a casar pela iniciativa Noivos de Santo António. Um momento que recordam com especial carinho e só lamentam não terem desfilado na Avenida da Liberdade como marchantes. "É uma experiência diferente. Os noivos "abrem" as marchas, mas não há explicação para a emoção que se sente quando se desfila pelo nosso bairro do coração", remata o bairrista.

Carnide

Celebrar na Avenida cem anos a encenar histórias

Fátima Monteiro já não sabe ao certo em que ano entrou pela primeira vez na Marcha de Carnide. Lembra-se, sim, que nessa edição, que terá sido há pelo menos 15 anos, só havia mais uma vaga para além da que ocupou. "Na altura, a marcha era de gente antiga", recorda, envergando já o título de marchante mais velha, apesar dos 34 anos. O número quase que "grita" o óbvio - em 2013, é um grupo mais jovem que vai assinalar o centenário da Sociedade Dramática de Carnide, entidade organizadora.

"Cinco, seis, sete e oito", repete, quase em desespero, a coreógrafa Inna Lisnyak, já depois de, por várias vezes, ter mostrado os passos que os participantes deverão executar. O ensaio decorre no Pavilhão Desportivo do Bairro Padre Cruz, ainda sem música e com muitos detalhes por acertar em vésperas da exibição no MEO Arena (antigo Pavilhão Atlântico), ocorrida ontem.

"O nosso objetivo é melhorar cada vez mais [a classificação]", afirma Paulo Julião, outro dos ensaiadores, a par de André Ferreira, adiantando que o conjunto vai "tentar chegar ao topo" depois do 13.º em 2012. "Toda a gente tem expectativas de ficar no primeiro lugar", reconhece a presidente da Sociedade Dramática de Carnide. Ainda assim, ressalva Teresa Martins, o "orgulho" das pessoas no cartão de visita do bairro "é o mais importante". "Esta é uma forma da sociedade sair à rua", sintetiza.

São essas ruas que Fátima Monteiro conhece desde que nasceu... e quando os prédios, que hoje ocupam grande parte da freguesia, ainda não eram uma realidade. "Eu sou da Horta Nova e a Horta Nova eram quintas. Eu cresci a andar pelas quintas a apanhar figos", conta, antes de Mário Gomes confirmar a vivência, com a certeza de que a própria memória de vida legitima.

Aos 41 anos, o carnidense é marchante desde 1997, ano em que abriram 12 vagas no conjunto popular de um bairro que, apesar de não se situar no centro histórico da cidade, tem uma longa história. "Tem a Feira da Luz", exemplifica, uma celebração que, há mais de cinco séculos, se realiza uma vez por ano na freguesia.

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