PSD questiona governo sobre demora de dez horas no internamento de bombeiro

PSD quer saber o que passou. CDS tem 25 perguntas para Costa porque de um PM "esperam-se respostas, não se esperam perguntas"
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O PSD perguntou esta quinta-feira ao Governo por que motivo demorou dez horas o internamento de um bombeiro ferido no combate aos incêndios em Pedrógão Grande, distrito de Leiria, no sábado.

A pergunta, a que a Lusa teve acesso, é dirigida aos Ministérios da Saúde e da Administração Interna e os três deputados do PSD eleitos por Leiria (Teresa Morais, Pedro Pimpão e Margarida Balseiro Lopes) consideram que, "a confirmar-se", esta é uma situação de "extrema gravidade".

"O que justificou que um bombeiro ferido desde cerca das 20:00 tenha sido sujeito a uma espera de dez horas até chegar a um hospital?" é a pergunta que o PSD dirige ao Governo.

No texto, os deputados, que estiveram nos últimos dias na região, recordam que o bombeiro de Castanheira de Pera Rui Rosinha esteve envolvido no acidente em que morreu outro bombeiro, Gonçalo Conceição.

O acidente, na Estrada Nacional 236, a chamada "estrada da morte", onde morreram mais de 40 pessoas, aconteceu, segundo os deputados, cerca das 20:00 de sábado e o bombeiro só chegou ao hospital da Prelada, no Porto, dez horas depois, às 06:00 de domingo.

Questionam ainda por que motivo o bombeiro, com queimaduras, foi levado por duas vezes ao Centro de Saúde de Castanheira de Pera, uma "perda de tempo" se "já se tinha percebido que o paciente carecia de internamento urgente".

CDS envia 25 perguntas ao primeiro-ministro

O CDS-PP anunciou que vai enviar hoje 25 perguntas a António Costa sobre a tragédia de Pedrógão Grande, salientando que "de um primeiro-ministro esperam-se respostas, não se esperam perguntas".

Em conferência de imprensa no parlamento, a presidente do CDS-PP, Assunção Cristas, salientou que "cumprido o luto nacional" é dever do partido "contribuir para que todas as perguntas sobre esta tragédia sejam respondidas".

O CDS-PP questiona, por exemplo, quem deu o primeiro alerta para o incêndio que deflagrou no sábado em Pedrógão Grande, e que causou pelo menos 64 mortos, qual a causa ou causas do incêndio ou se o sistema de comunicações SIRESP falhou ou não.

A presidente do CDS-PP questiona ainda o primeiro-ministro se concorda com a ministra da Administração Interna de que "não há prova de ter havido qualquer falha na resposta do Estado", se mantém a confiança em Constança Urbano de Sousa e se "assume que houve descoordenação política".

"Na nossa perspetiva há muito por esclarecer e há muitas questões que têm versões contraditórias, inclusivamente por parte de responsáveis políticos e de membros do Governo. Obviamente se há tanta pergunta por fazer, é porque há muito por esclarecer", justificou Assunção Cristas.

Questionada se o CDS-PP quer a demissão da ministra da Administração Interna, Assunção Cristas não respondeu diretamente.

"Nós entendemos que, para lá de todas as questões técnicas, há responsabilidades políticas que cada um tem de assumir. Até agora, o que vimos foi uma ministra dizer que não tinha evidência de que o Estado tinha falhado em alguma coisa e um primeiro-ministro que, em vez de dar respostas, faz perguntas à administração por cima dos seus próprios ministros", criticou.

A líder do CDS-PP, Assunção Cristas, que esteve acompanhada na conferência de imprensa pelo líder parlamentar, Nuno Magalhães, e pela vice-presidente Cecília Meireles justificou o envio das perguntas diretamente para António Costa, porque é o Governo "que coordena toda a Administração Pública e tutela todas as entidades envolvidas".

"Seria um bom sinal que pudesse responder com celeridade, seria sinal que a coordenação tinha voltado", afirmou.

Entre as perguntas colocadas, os democratas-cristãos questionam qual era o nível de alerta operacional do dispositivo para a área em que deflagrou o incêndio e por que razão não foi superior.

Sobre o sistema de comunicações de emergência (SIRESP), o CDS-PP quer saber se falhou, por quanto tempo, quando foi detetada a falha e se teve consequências operacionais.

Por outro lado, os democratas-cristãos colocam uma série de questões sobre o encerramento da estrada N-236-1, onde terão morrido 47 pessoas: se estava aberta ou fechada ao trânsito, por ordem de quem e por que razão, na entrevista de terça-feira à TVI, António Costa "citou apenas uma parte da resposta dada pela GNR" sobre esta matéria.

À TVI, António Costa adiantou que, segundo a GNR, o fogo terá atingido a estrada de forma "inusitada, rápida e repentina".

Na resposta integral depois divulgada, o Comando Geral da GNR sustenta que não havia então "qualquer indicador ou informação que apontasse para a existência de risco potencial ou efetivo em seguir por esta estrada (EN 236-1) em qualquer dos sentidos" e aponta dificuldades operacionais na missão de cortar a estrada.

Da lista de perguntas do CDS constam ainda interrogações sobre evacuação de aldeias, o momento em que as autoridades tomaram conhecimento da existência de vítimas mortais, a adequação dos meios em cada momento ou a dispensa de 60 bombeiros florestais espanhóis.

Além das 25 perguntas, os democratas-cristãos pedem ainda que lhe sejam enviados a fita do tempo do Sistema de Apoio à Decisão Operacional (SADO) dos dias 17 e 18 de junho e as respostas da Autoridade Nacional da Proteção Civil, da GNR e do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) às perguntas colocadas pelo primeiro-ministro na segunda-feira.

O incêndio que deflagrou no sábado à tarde em Pedrógão Grande, no distrito de Leiria, e que foi dado como dominado na tarde de quarta-feira, provocou pelo menos 64 mortos e mais de 200 feridos.

O fogo começou em Escalos Fundeiros, e alastrou depois a Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pera, no distrito de Leiria.

Desde então, as chamas chegaram aos distritos de Castelo Branco, através do concelho da Sertã, e de Coimbra, pela Pampilhosa da Serra.

Este incêndio já consumiu cerca de 30 mil hectares de floresta, de acordo com dados do Sistema Europeu de Informação de Incêndios Florestais.

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