"O mundo está caótico"

António Guterres foi à Cimeira Ibero-Americana alertar para a proliferação de partidos populistas xenófobos e pede ao mundo que se organize de outra forma.
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Dezenas de chefes de estado e de governo vestidos de branco é uma imagem que o mundo não está muito habituado a ver. Aconteceu na Colômbia, onde este ano decorreu a XXV Cimeira Ibero-Americana. O desafio foi lançado pela organização colombiana para que Presidentes e Primeiros-ministros vestissem a popular camisa guyabera, e com isso passassem uma mensagem de paz ao mundo. Foi assim mesmo que Marcelo Rebelo de Sousa resumiu este encontro: "Uma cimeira da paz". A coincidência "não podia ser mais feliz" explica o Presidente da República. A Colômbia está num processo de pacificação com as FARC e a expectativa, deixada pelo Presidente colombiano, é de que a paz seja mesmo uma realidade.

O exemplo dos países da comunidade Ibero-americanos serviu de mote ao Secretário-geral eleito das Nações Unidas para a intervenção que fez logo no arranque da cimeira. António Guterres fez um paralelo entre o momento que o mundo vive hoje e aquele que vivia no final da década de 90, quando Guterres participava nestas cimeiras enquanto Primeiro-ministro de Portugal. "Na altura vivíamos num mundo unipolar que não tinha muitas vezes sistemas de governo democrático mas onde as relações de poder eram claras e em que havia regras na forma como os conflitos ocorriam", recordou Guterres. Hoje, explica o futuro Secretário-Geral das Nações Unidas "temos um mundo caótico e eu, por vezes, pergunto-me se este mundo caótico é a transição necessária para a tal multipolaridade organizada, que creio todos nós desejamos, ou se é a nova forma de a comunidade internacional se organizar".

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Numa intervenção muito aplaudida, António Guterres continuou a sua caracterização do mundo moderno com outras preocupações, como a proliferação de "partidos políticos que estão a ter êxito graças a populismos xenófobos, à negação dos direitos dos emigrantes e dos refugiados". E, apesar de considerar que os países Ibero-Americanos são hoje em dia um espaço de incontestável tolerância, não deixou de lembrar que mesmo aqui, também há pequenos fenómenos de populismo, mas que isso "é a vida".

António Costa também se referiu a este assunto para lembrar que Portugal e Espanha são os dois únicos países da União Europeia onde o populismo xenófobo nunca teve êxito.

Vender Portugal

Juventude, empreendedorismo e Educação, era o tema desta Cimeira Ibero-Americana. Marcelo Rebelo de Sousa e António Costa afinaram o discurso e quiseram aproveitar a oportunidade para explicar o que está Portugal a fazer nestas áreas. Se há uns anos José Sócrates veio a esta Cimeira "vender" o computador "Magalhães", desta vez, António Costa e o próprio Marcelo vieram vender Web Summit, que decorre este ano em Lisboa, já no próximo mês de novembro. Uma espécie de bandeira que pretende dar uma imagem de Portugal como um país virado para o futuro.

Independentemente do tema de cada cimeira, estes encontros, que passaram a ser de dois em dois anos, servem sobretudo para meter a diplomacia a funcionar. Para aproximar países e os respetivos interesses, para falar de negócios. Foi o que Portugal fez. Na conferência de imprensa final para comunicação social portuguesa, António Costa revelou que teve reuniões bilaterais com vários chefes de governo no sentido de aprofundar as relações económicas, nomeadamente "com o Chile, com quem pretendemos iniciar um trabalho de aprofundamento das relações bilaterais", adiantou o Primeiro-ministro.

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2017 promete ser um ano de muitas viagens, quer para o Primeiro-ministro, quer para o Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa adiantou que "foram feitos vários convites a vários chefes de Estado para visitarem Portugal" mas que "houve também vários convites, quer ao Presidente da República quer ao Primeiro-ministro". António Costa diz que quer ir "rapidamente à Argentina, que está num período de viragem económica muito importante". Uma curiosidade, houve várias manifestações de interesse de muitos chefes de estado da América Latina para visitarem Fátima, no próximo ano, a propósito do Centenário das Aparições.

"Dança quem está na roda"

O balanço de Marcelo e de António Costa desta Cimeira é claramente positivo. E não foram as ausências de dois países importantes na região, o Brasil e a Venezuela, que mancham, no entender o Presidente da República, este encontro. "Como dizia um grande amigo meu Barbosa de Melo, dança quem está na roda, que é como quem diz só importa quem vem".

Estará Portugal hoje mais próximo dos países da aliança do pacífico e mais distante de países como o Brasil e a Argentina? Marcelo Rebelo de Sousa discorda. O Presidente da República lembra que as relações entre Portugal e o Brasil são ímpares. António Costa alinha no mesmo diapasão e lembra que a relação entre Portugal e Brasil é tão íntima que "o Presidente da República e o Ministro dos Negócios Estrangeiros vão viajar para o Brasil, para a Cimeira da CPLP, no avião do Presidente Temer. Eu é que vou dar uma volta maior".

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Costa segura Ministro da Educação

Tiago Brandão Rodrigues já tinha partido para Lisboa quando António Costa chegou à Colômbia. O Ministro que viu esta semana um chefe de gabinete demitir-se por causa da polémica das licenciaturas, continua a ser muito contestado, sobretudo pelo CDS que até já pediu a sua demissão. A resposta de António Costa é clara: "mantenho total confiança no Ministro da Educação". E mais não comenta sobre esta polémica, associando-se ao Presidente da República que, confrontado com o tema repetiu a frase que tem servido para todos os outros assuntos de política interna: "fora do país não comento esse tipo de assuntos".

E sobre a Caixa Geral de Depósitos? A resposta do Presidente é tirada a papel químico, o que faz com que Marcelo Rebelo de Sousa, que promulgou a polémica lei que cria uma exceção à nova administração da CGD esteja há pelo menos uma semana em silêncio sobre o assunto.

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