Marcelo: Presidente aguenta governo "por uns tempos"
Em dia de mais um adiamento sobre as sanções de Bruxelas, Marcelo não resistiu a dar uma leve facada no executivo de Costa. Os comentários políticos de Marcelo Rebelo de Sousa brotam como cogumelos e ontem, de faca na mão, o Presidente não resistiu a fazer mais uma metáfora: desta vez sobre estabilidade política. Aguenta o governo, mas "por uns tempos".
Durante uma visita a uma produção daqueles fungos em Vila Flor, no âmbito do Portugal Próximo, Marcelo enviou recados com conotação política. "Olha que maravilha, um duplo cogumelo", disse o Presidente enquanto colhia o produto. Depois veio a distinção intencional. Para Marcelo "o cogumelo maior é o cogumelo presidencial e este é o governo porque é mais pequenino". Também aqui quis pender o peso do semipresidencialismo para Belém, já que o Presidente é "o cogumelo maior" e o governo de Costa "o mais pequenino".
Com a faca e o cogumelo na mão, o Presidente continuou a comparação, falando em "solidariedade institucional", já que - como a forma daqueles cogumelos - "o Presidente da República [está] sempre a aguentar o governo..." A surpresa veio no final da frase, com Marcelo a acrescentar que o Presidente aguenta o governo... "por uns tempos".
O "por uns tempos" não foi dito num púlpito, mas à Marcelo, no meio da visita à produção e com microfones, gravadores e câmaras televisivas apontadas. Na verdade, a forma não é estratégica, mas o Marcelo comentador vem sempre ao de cima. Ao de leve, seja no meio de morangos, presuntos ou cogumelos. É já uma marca das presidências abertas de Marcelo.
No Alentejo, foi no meio de uma plantação de morangos que admitiu ficar dez anos em Belém e aproveitou um carrinho na mesma ocasião para dizer que tentava puxar o governo para o centro. Ontem voltou a fazer a mesma chalaça em Alfândega da Fé, dizendo que ia cumprimentando populares "à esquerda e à direita para equilibrar, porque o Presidente tem de estar sempre ao centro". Já na segunda-feira, em Vila Real, a prova de um doce (o cavacório) foi pretexto para elogiar o cavaquismo.
Até à metáfora de ontem, dos cogumelos, que é também a forma da explosão de uma bomba atómica (que não a presidencial), Marcelo sempre rejeitou ser ele a criar instabilidade política. A24 de maio, o Presidente foi claro: "Desiludam-se aqueles que pensam que o Presidente vai dar um passo sequer para provocar instabilidade neste ciclo que vai até às autárquicas." Embora admitisse que essa solidez tinha prazo: "Depois das autárquicas, veremos o que se passa." O DN contactou o PSD, que optou por não reagir às declarações de Marcelo. O PS também não o fez.
O dia foi marcado pelas sanções (ver texto ao lado) e, logo durante a manhã, o Presidente recusou-se a "antecipar comentários" à eventual decisão de Bruxelas, pois "quem vai decidir são os comissários e nenhum de nós imagina o que vai ser decidido". Para Marcelo é preciso "esperar para ver e certamente que, lá para a tardinha, haverá oportunidade de comentar aquilo que venha a ser a deliberação da Comissão".
Marcelo acabou, porém, por destacar que "este é um processo por natureza muito longo e complicado porque a Comissão toma uma posição, veremos qual, e depois o Ecofin é que virá a apreciar, e depois vai voltar à comissão se for caso disso. Estamos ainda antes desse primeiro passo".
À tarde, num discurso em Alfândega da Fé, Marcelo não esqueceu a credibilização de Portugal junto de Bruxelas. O Presidente disse que os portugueses "têm de lutar, todos os dias, criando uma compreensão da Europa, para que perceba esta luta de Portugal e dos portugueses".