29 julho 2016 às 01h42

Campanha da CDU foi a menos rentável nas legislativas de 2015

Cada voto custou à coligação chefiada pelo PCP cerca de 3,1 euros - o valor mais alto de entre as formações parlamentares. A campanha que mais se desviou do orçamentado e mais prejuízo deu foi a da aliança PSD-CDS

João Pedro Henriques

As contas das últimas eleições legislativas (junho de 2015) revelam que a campanha mais cara - se dividirmos o dinheiro gasto pelo número de votos obtidos e pelos deputados eleitos - acabou por ser a da CDU (a Coligação Democrática Unitária, que une o PCP e o PEV).

Sendo certo que a CDU foi a única formação parlamentar que conseguiu gastar menos do que previa - todas as outras excederam os respetivos orçamentos iniciais (ver quadro) -, a verdade é que a sua rentabilidade foi de todas a menor.

Cada voto obtido custou à coligação chefiada pelo PCP cerca de 3,1 euros. Valor que é cerca do dobro do custo de cada voto para o Bloco de Esquerda (1,5 euros por cada voto) e sete vezes mais do que o do PAN (0,4 euros por voto), de longe o partido com melhor rentabilidade eleitoral.

Os cerca de 1,4 milhões de euros gastos permitiram à CDU obter cerca de 445 mil votos e eleger 17 deputados (15 do PCP e dois do PEV), mais um do que nas eleições legislativas de 2011.

Isto significa que cada deputado eleito pela coligação "custou" cerca de 83,8 mil euros. Um valor que foi cerca do dobro do "custo" de cada deputado da coligação PAF (PSD+CDS) ou do Bloco. Também aqui, neste ratio custo/deputado eleito, o partido que melhor rentabilidade teve foi o PAN, que nas legislativas de 2015 acedeu pela primeira vez ao Parlamento.

O seu único eleito, André Silva, "custou" 32 mil euros, o custo total da campanha, segundo os dados revelados há dias no site da Entidade das Contas e Financiamentos Políticos.

Somados, os custos das campanhas das formações que conseguiram eleger deputados ascenderam a cerca de 9,8 milhões de euros (não contabilizando aqui os custos das campanhas autónomas do PSD e do CDS nas ilhas, onde os dois partidos não formalizaram a coligação, ao contrário do que aconteceu no resto do país). Este valor, 9,8 milhões de euros, é ligeiramente inferior ao de 2011, 10,5 milhões de euros.

Mas o que os dados da Entidade das Contas agora mostram é que, pelo menos na coligação PSD-CDS, no Bloco de Esquerda e no PS se registarem enormes desvios entre o que as duas formações inicialmente orçamentaram e o que no fim acabaram por gastar.

No caso da PAF, o desvio foi de cerca de 53% - os 2,8 milhões de euros inicialmente previstos acabaram em cerca de 4,3 milhões de euros.

Quanto aos bloquistas, esse desvio ascendeu a 40,3% (orçamento inicial de quase 600 mil euros e custo final de cerca de 840 mil).

Já no caso dos socialistas, foi de 24,4% - a campanha de António Costa custou no fim 3,2 milhões de euros e o orçamento inicial só apontava para custos na ordem dos 2,5 milhões .

A CDU foi a única formação parlamentar a ter uma variação positiva entre os dois valores (gastou menos do que inicialmente previa) e no PAN o desvio foi de dois mil euros (6%, a campanha tinha previsto gastar 30 mil euros e gastou 32 mil).

Os números da Entidade das Contas revelam também a diferença entre o que cada formação gastou e o que vai receber do Estado - verba que é estabelecida em função dos resultados obtidos.

No PS, o subsídio estatal será de 2,2 milhões de euros mas a campanha custou 3,2 milhões. Dito de outra forma: os socialistas tiveram um milhão de prejuízo e terão de o cobrir com fundos próprios e com a ajuda de donativos.

No caso da coligação PSD-CDS o resultado foi pior. O subsídio estatal será de 2,6 milhões de euros mas a campanha eleitoral custou no total 4,3 milhões. Portanto, o prejuízo ascendeu a 1,7 milhões de euros - que devem ser cobertos pelos fundos dos dois partidos.

Com a CDU essa diferença entre a subvenção estatal e o custo total será de 540 mil euros, os quais serão cobertos, a maior parte, pelo PCP (450 mil euros). O resto fica por conta do PEV e de angariações de fundos. No BE há quase equilíbrio entre as duas parcelas (subvenção de 796 mil euros e custo final de 839 mil).

No PAN a diferença foi de cerca de 6,3 mil euros.