Indústria de refinação europeia condenada por normativas

O presidente do conselho de administração da RAR Açúcar, João Pereira, alertou hoje que a indústria de refinação europeia tem a viabilidade condenada se as normativas da Comissão Europeia de importação de matéria-prima não mudarem, pedindo justiça e equilíbrio.

"A RAR tem enormes dificuldades em garantir matéria-prima para alimentar a sua refinaria porque ela, pura e simplesmente, não está disponível em quantidade suficiente", disse à Agência Lusa João Pereira, explicando que a indústria de refinação europeia está apenas autorizada a aprovisionar-se de origens ditas preferenciais, sem pagamento de tarifas, cuja produção não atinge os níveis projetados pela Comissão Europeia (CE).

Segundo o presidente do conselho de administração da RAR Açúcar, a CE, "desde a reforma de 2006, tem negado estas dificuldades de aprovisionamento", que já obrigaram a RAR "a parar a refinaria por completa exaustão dos 'stocks' de matéria-prima", resultando na "corrida ao açúcar há dois anos, próxima do Natal".

"Parece um contrassenso: a indústria existe, a indústria é competitiva, a indústria está tecnologicamente dotada, só que depois esbarra porque não tem matéria-prima para garantir o seu natural e normal funcionamento", lamentou.

No caso da RAR, são cerca de 190 postos de trabalho diretos que estão em causa - para a indústria portuguesa são cerca de 600, entre as três refinarias que existem -- explicando o responsável que a produção em 2011 foi de cerca de 130 mil toneladas para uma capacidade instalada de 250 mil toneladas, que não conseguem cumprir devido à falta de matéria-prima.

João Pereira garante que "não há falta de açúcar no mundo, onde há falta de açúcar é nas origens ditas preferenciais" e portanto quando a indústria vai "comprar açúcar em origens não preferenciais", tem que pagar uma tarifa, o que põe em causa a viabilidade financeira do negócio.

"Os importadores têm um duplo problema. Primeiro, têm um volume de acesso de matéria-prima das origens preferenciais muito aquém daquilo que a comissão previu e quando a comissão nos autoriza a colmatar esse défice, obriga-nos a pagar uma tarifa sujeita a leilão que, na prática, vai-nos colocar em condições economicamente híper-desfavoráveis", explica.

Segundo o administrador do Grupo RAR "o 'timing' vai ficando cada vez mais apertado, porque os 'stocks' que a indústria tem vão-se exaurindo", considerando por isso que a CE "necessita de compreender e de encontrar uma solução de aprovisionamento das refinarias europeias que seja equilibrada".

"A indústria da refinação europeia em geral e a RAR em particular têm a sua viabilidade completamente condenada se este tipo de coisas não for alterado", disse.

Segundo o responsável "tudo o que a comissão, ao nível do açúcar, decide é feito através de áreas agrícolas".

"Oitenta por cento da produção açucareira europeia é de beterraba e falar de beterraba é falar de agricultura. O lóbi da beterraba, o lóbi da agricultura tem a força que todos reconhecemos que tem e eu não tenho nada contra isso. Só quero alguma justiça, algum equilíbrio entre os setores", disse.

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