Falta de especialistas ameaça reforma

Ordem, especialistas e sindicatos admitem que número de médicos de medicina interna é insuficiente

O projecto da ministra da Saúde de entregar aos médicos internistas gestão dos doentes nos hospitais, tal como já acontece com os médicos de família nos centros de saúde, é vista com bons olhos por parte dos clínicos. Mas a intenção de Ana Jorge pode esbarrar na falta de especialistas em medicina interna.

Em 2009 existiam apenas 2331 internistas no País, revelam os dados da  Administração Central do Sistema de Saúde. A Ordem dos Médicos, especialistas da área e sindicato reconhecem que este é um número muito inferior às necessidades.

"O internista é o médico mais qualificado para acompanhar o doente durante o internamento e entre episódios de internamento pela sua capacidade de dialogar com as várias sub-especialidades e fazer a ponte entre as várias áreas do conhecimento", começou por dizer ao DN Luís Campos, director do Serviço de Medicina Interna do Hospital de S. Francisco Xavier e presidente do Conselho para a Qualidade na Saúde.

Mas, para que esta proposta avance, o especialista reconhece que outras medidas têm de avançar, nomeadamente "ter mais e melhores internistas". "Este caminho para o papel do internista tem de ter correspondência em número de vagas e que o trabalho seja reconhecido e financiado de forma especifica. É preciso que exista uma discriminação positiva de forma a cativar os estudantes, que estão a optar por áreas mais tecnológicas", afirmou.

A juntar a isso, mais dois passos essenciais: avançar com o registo  único do doente e estreitar as relações entre o internista e os médicos de família. Quanto ao que seria o número ideal de internistas para dar uma resposta eficaz a este plano, Luís Campos diz que não existem  projecções. "A forma ideal" de saber seria avançar com projectos-piloto, propõe. "Os efectivos de medicina interna estão muito longe de corresponder às necessidades. É uma das áreas mais deficitárias e isso é possível também nas urgências. Os internistas têm um papel fundamental a desempenhar e colmatar um lacuna destas não demora nem cinco, nem seis anos", disse ao DN Mário Jorge Neves, presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fnam). Uma preocupação espelhada também pelo bastonário dos Médicos. "Esse modelo pressupõe uma reorganização da especialidade médica, porque não existem médicos internos", reconheceu Pedro Nunes, a quem as ideias de ter equipas fixas nas urgências e promover os médicos reformados ao Serviço Nacional de Saúde agradam.

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