E afinal quem faz espionagem política?
A sala de conferências de imprensa está muito concorrida. E os atrasos podem dar confusão se as bancadas marcam declarações para horas aproximadas. Esta semana era ver a assessora do PCP a puxar as orelhas ao assessor do CDS, por causa de um desses atrasos. Com fair-play, que todos se dão bem. Afinal uns dias antes foi o CDS quem a salvou . Paula Barata fumava um cigarro na varanda, já de noite, e acabou trancada. Valeu-lhe Paulo Portas, que uns minutos depois apareceu para fumar. Um bom camarada é o que é.
Jaime Gama, que já foi jornalista, estranhou ( e ele lá sabe) que só três jornalistas o tivessem abordado nos Passos Perdidos sobre a polémica das regras para as justificações das faltas dos deputados. "Então são só vocês?", interrogou. "Vão lá chamar os outros." E assim fizeram. A mensagem é conhecida: "Não há deputados em part-time nem isto é a Câmara dos Lordes." O Presidente da Assembleia da República quando quer mesmo falar espera a abordagem e depois ataca. Para que todos ouçam.
Ricardo Rodrigues ( PS) já não estava na sala onde decorria a audição a Vieira da Silva sobre a "espionagem política" quando, a páginas tantas,Helena Pinto, deputada do Bloco de Esquerda, exclamou : "O senhor deputado, que já não está entre nós..." Foi de imediato interrompida por uma gargalhada geral. Percebendo o sentido, corrigiu : "Não era isso que eu queria dizer…" . Oportuno, Nuno Magalhães, do CDS-PP, rematou: " Isto é que é um verdadeiro assassinato político." Até o ministro se riu.
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Não, também não foi feliz a referência ao ditado popular com que o ministro Vieira da Silva encerrou a sua intervenção na comissão de Assuntos Constitucionais: "Pela boca morre o peixe", disse aos deputados, a quem acusava de aproveitamento político por causa das escutas a Armando Vara que "apanharam" conversas com José Sócrates. "Ah, pois é!", devolveram em coro alguns parlamentares, entre sorrisos. É um daqueles ditados que no contexto também se vira contra o PS. Cinco dias antes, o país tinha ficado a saber que Armando Vara tinha, de facto, recebido uma oferta do sucateiro Manuel Godinho: uma caixa de robalos. A ironia não ocorreu ao ministro. Embalado que estava em pisar o tapete vermelho que o PS, pela intervenção de Ricardo Rodrigues, lhe tinha estendido uma hora antes. Vieira da Silva já tinha dito que mantinha a acusação de espionagem política: "Não foi gaffe nem deslize" o ter dito que "o que motiva essas forças e as pessoas que estão por detrás é pura espionagem política". Foi para explicar esta acusação que o ministro da Economia ali foi chamado pelo PSD: "Sou um cidadão que se indigna e em causa estão fugas deploráveis ao segredo de justiça", disse Vieira da Silva. Que garantiu que não se referia às autoridades judiciárias - interpretação feita em toda a oposição. O que disse o PS ? Acusou Manuela Ferreira Leite de ter tido acesso às escutas: "Usou argumentos, Manuela Ferreira Leite, que até parecia que tinha conhecimento das escutas" ,disse Ricardo Rodrigues, insistindo perante os protestos do PSD. "É gravíssimo, quando afirmou que o primeiro-ministro está a mentir aqui no Parlamento por causa da TVI, fiquei admirado. Como é que sabia que está a mentir?" Ups…Mas então o sr. deputado socialista também sabia que Sócrates mentiu? A acusação é grave mas, não havendo mentira, é também do domínio do absurdo. Embora o propósito fosse óbvio, seguindo outra máxima: a melhor defesa é o ataque. Ontem, Sócrates foi fiel à estratégia. Mas quem foi o ministro que em 2000 dizia "não ter o talento, nem as qualidades que um primeiro-ministro deve ter"? José Sócrates. Pela boca morre o peixe?