De 'príncipe da Transilvânia' na alta roda à barra do tribunal
Durante anos, o belga Tristan Jacques Gillot apresentou-se a autarquias, bancos e grandes empresas portuguesas como sendo o "Princípe da Transilvânia", herdeiro de uma fortuna colossal com origem na exploração de minas de ouro na África do Sul. O seu cúmplice, da mesma nacionalidade, Christian Decot, dizia ser "Cavaleiro do Principado da Transilvânia", uma espécie de "embaixador" com a missão de desenvolver negócios em Portugal. Em prisão preventiva dado o risco de fuga, os dois homens começam esta quinta-feira a ser julgados no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, tendo sido pronunciados pela co--autoria de doze crimes de burla qualificada, entre a forma tentada e consumada, um crime de falsificação de documentos e dois de uso de documento falsificado.
Em causa estão factos ocorridos entre 2005 e 2009. Os dois arguidos são acusados de ter engendrado um esquema de burla em torno de um suposto projecto de construção de uma fábrica aeronáutica, envolvendo a criação de 300 postos de trabalho, para a qual seria necessário obter financiamento bancário num montante até 250 milhões de euros. A empresa, denominada Falconwings, chegou a ter sedes em Ponte de Sor e no Aeródromo Municipal de Évora, onde instalou um contentor prefabricado num terreno cedido pelo município.
Num rápido encontro com os jornalistas convocado pela Câmara de Évora, Gillot e Decot deixaram-se fotografar durante um brinde ao arranque do projecto - é uma das raras imagens juntos. Semanas depois, não só o terreno e o contentor estavam por pagar, como se esfumavam as promessas de emprego.
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Para concretizarem os seus propósitos, terão sido apresentadas duas garantias bancárias falsas, uma no Millennium bcp e outra na Caixa Geral de Depósitos, no valor de 170 milhões de euros, e efectuada a tentativa de apresentação de duas outras ao Banco Espírito Santo. O caso foi denunciado às autoridades pelas duas instituições bancárias que recusaram o financiamento, apesar de ter sido dada uma outra garantia suplementar: uma ministra da República do Congo, Catherine Nzuzi Wa-Mbombo, chegou a deslocar-se a Portugal para atestar o interesse do seu país na compra dos aviões.
Um esquema de contornos idênticos terá sido ainda tentado na Covilhã - o projecto foi considerado "sem consistência técnica", pela Universidade da Beira Interior - e em Arraiolos. Na quinta- -feira, o "príncipe" vai a tribunal.