Coligação não perdeu a esperança de seduzir o PS
Quando o acordo à esquerda parece estar cada vez mais avançado, a coligação insiste em estender a mão, e uns quantos compromissos para a legislatura, aos socialistas
Separar as águas entre PSD, CDS e PS, de um lado, e PCP e BE, do outro, é a estratégia que pode dominar, nos próximos dias, as intervenções dos dirigentes dos partidos da coligação PAF, numa derradeira tentativa de "seduzir" os socialistas. O vice-presidente do PSD Marco António Costa deu ontem o pontapé de saída: "Acreditamos que o PS tem sempre a oportunidade para corrigir a trajetória errada que está a fazer relativamente à história, porque a sua história não é no sentido desta trajetória, estamos a um mês do 25 de Novembro e recordamos a importância que o PS teve para ajudar a cimentar valores de democracia que nós perfilhamos."
Conforme o DN noticiou ontem, o programa de governo que está a ser trabalhado na coligação vai ser caracterizado pelo "espírito de compromisso" assumido, logo na noite eleitoral, por Passos Coelho e Paulo Portas. Os dois líderes, juntamente com Marco António Costa e Pedro Mota Soares, pretendem que este configure uma tentativa de demonstrar, até ao limite, a disponibilidade de negociar com António Costa. Este programa deverá mesmo integrar algumas das 23 medidas do programa eleitoral do PS, que a PAF propôs a António Costa e que este refutou, alegando serem "insuficientes".
Esta aproximação aos socialistas é a prioridade, afastando ao mesmo tempo do PS o PCP e o BE, partidos que, segundo Marco António, "têm programas e projetos políticos que são inconciliáveis com aqueles que o PSD, o CDS e o PS defendem para a sociedade portuguesa". Aliás, vem ao encontro do que declarou o Presidente da República, na quinta--feira passada. Cavaco Silva assinalou que os programas políticos destes três partidos não se mostram "incompatíveis, sendo, pelo contrário, praticamente convergentes quanto aos objetivos estratégicos de Portugal".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Pelo contrário, causando acesa polémica, o Chefe do Estado afastou de uma solução governativa "forças políticas antieuropeístas", antieuro, anti-NATO, como o PCP e o BE, lamentando que "interesses conjunturais se tenham sobreposto à salvaguarda do superior interesse nacional".
O vice-presidente do PSD, em declarações ontem aos jornalistas, à saída de um encontro com a JSD, no Porto, segue a mesma linha de raciocínio de Cavaco Silva. "Os nossos programas, em muitos pontos, são conciliáveis, o que não são conciliáveis são os programas do PS, do BE e do PCP, a não ser num arranjo oportunista de querer chegar ao poder de qualquer maneira e de criar uma condição de bloqueio ao respeito do resultado eleitoral de 4 de outubro", sublinhou. "Sabemos que há partidos que têm programas e projetos políticos que são inconciliáveis com aqueles que o PSD, o CDS e o PS defendem para a sociedade portuguesa", acrescentou ainda.
Marco António Costa, que foi o coordenador político do acordo com o CDS, caracteriza as negociações à esquerda como "uma soma de vontades negativas que pretendem subverter os resultados de 4 de outubro". No seu entender, "isto não teria relevância se fosse um mero jogo floral entre políticos, mas a verdade é que isto prejudica o país e gera graves consequências de instabilidade na imagem externa e na interna".