Cesariny nunca pintou tanto como depois da sua morte
A PJ do Porto tem mais de dez quadros falsos do mestre apreendidos. Ainda são obras da maior falsificadora portuguesa
A obra, um óleo sobre platex, emoldurado, representando uma "linha d'água", estava atribuída ao mestre do surrealismo luso Mário Cesariny e ia para venda em leilão quando foi apreendida pela Polícia Judiciária numa leiloeira de Lisboa a 25 de Outubro último. A base de licitação era de dez mil euros e o quadro seria vendido entre os dias 25 e 29 de Outubro.
A apreensão, comunicada ontem pela Polícia Judiciária do Porto, é a última de um conjunto de dez telas falsas de Cesariny apreendidas nos últimos dois anos pela brigada de obras de arte da Invicta. "Após a morte de Cesariny [em Novembro de 2006] a sua obra foi amplamente falsificada", adiantou ao DN fonte da PJ do Porto.
Estas apreensões de obras falsas de Cesariny foram possíveis devido a uma investigação aberta há dois anos, aquando da detenção de "Isabel", de 52 anos. A mulher, que foi constituída arguida em Abril de 2008 e sujeita a apresentações periódicas, é a maior falsificadora de pintura portuguesa contemporânea de que a PJ tem memória (texto abaixo). Entre os mais de cem quadros forjados por esta herdeira de uma família aristocrata portuense estão mais de uma dezena de telas falsas de Cesariny, os tais já apreendidos pela Polícia Judiciária. Os últimos dois, detectados numa leiloeira de Lisboa, reportam ao pequeno quadro da linha de água (40,5x102 cm) e a um outro do mestre surrealista.
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A obra da "linha de água" que estava já exposta para venda em leilão vinha assinada no canto inferior direito com o nome "Cesariny". Segundo fonte da PJ do Porto, trata-se de uma "falsificação de muito boa qualidade". Curiosamente, o quadro "não tinha certificado de autenticidade". mas, mesmo assim, foi parar a uma leiloeira. A casa lisboeta, cujo nome a PJ não quis referir, está a ser investigada.
"Em vida, as falsificações de Cesariny tinham um valor residual. Com a sua morte, esse valor aumentou", adiantou a mesma fonte. Já o coordenador da secção de obras de arte da Directoria de Lisboa da PJ, João Oliveira, salienta ao DN que "Cesariny sempre foi muito fácil de falsificar devido às suas linhas abstractas mas simples". As telas "são relativamente pequenas e não atingem valores muito elevados, o que significa que têm sempre mercado e não representam risco elevado". O valor dos quadros mais pequenos de Cesariny oscila entre os dois mil e os cinco mil euros.
No próximo dia 26 completam--se quatro anos sobre a morte do mestre surrealista. Apesar da procura, Cesariny ainda não consta do top dos pintores nacionais mais falsificados, na opinião do coordenador da secção de obras de arte de Lisboa (ver caixa).