César das Neves dá conselho de Salazar a deputados do PSD
César das Neves e João Salgueiro acreditam num novo resgate. "Estamos por meses de ver aí uma coisa mesmo séria"
Nas jornadas parlamentares do PSD, que decorrem em Santarém, os economistas João Salgueiro e João César das Neves disseram esta manhã que acreditam que um quarto resgate para o país pode ser uma possibilidade.
João César das Neves foi mais taxativo, dizendo que "está-se à beira de um novo resgate em Portugal, e certamente uma crise muito mais vasta do que isso." Isto agravado pelo facto de a Europa estar "fragilizadíssima e, portanto, estamos por meses de ver aí uma coisa mesmo séria". Também João Salgueiro considerou que um novo resgate "pode ser inevitável".
Durante a intervenção, num estilo provocador e a espaços irónico, o economista João César das Neves fez esta manhã uma intervenção sobre economia e finanças nas jornadas parlamentares do PSD, onde considerou que "o crescimento em Portugal é uma questão arqueológica".
Subscreva as newsletters Diário de Notícias e receba as informações em primeira mão.
Na intervenção, César das Neves mostrou vários gráficos, entre eles um gráfico com o que chamou de "economia empatada", onde figurava a evolução do crescimento, aos qual acrescentou caras de primeiros-ministros socialistas, mas também sociais-democratas (incluindo Passos Coelho). "Vou mostrar as carinhas deles", disse.
Quanto às causas da situação, o economista exibiu um powerpoint com vários logótipos, de clubes de futebol a bancos, passando por partidos, tendo "o PSD em grande porque esteve mais anos no poder". César das Neves acrescentou ainda que "Portugal é um país de evasão fiscal", apresentando a fuga ao fisco quase como uma questão cultural. Quanto ao setor mais cumpridor não tem dúvidas: "Se alguém paga impostos em Portugal são as empresas".
Sem pudor e também sem tom crítico, César das Neves dirigiu-se aos deputados do PSD e disse "o vosso governo que foi o que mais liberalizou o mercado de trabalho", mesmo assim não conseguiu equilibrar o nível de rigidez do mercado de trabalho com os parceiros europeus. "Mesmo assim estamos à frente da tropa toda", atirou. Afinal, o PSD foi mesmo liberal no mercado de trabalho.
As críticas ao país incluíram ainda "o país mais desigual da zona mais igualitária do mundo", um país com "uma produtividade miserável" e um "país para velhos", já que a pobreza, segundo novo gráfico, cresce entre os mais jovens.
A intervenção de César das Neves acabou como começou, provocadora, numa alusão ao tema do painel. "Querem caminhos seguros para um crescimento económico duradouro? Dou-vos um conselho: 'o comércio e a indústria tiveram durante algum tempo disponibilidades enormes: parecia que os comerciantes não acabavam de enriquecer. Todas as empresas pareciam prósperas; afinal muitos vieram a verificar que se tratava de riqueza ilusória e estavam na realidade empobrecidos: tinham distribuído e gasto o próprio capital. (...) Todos estes males têm somente uma cura - a estabilização da moeda, e esta é impossível independentemente da solução do problema financeiro". Pouco depois divulgava o autor da frase: "É de António Oliveira Salazar". E durante uns minutos a tela da sala ficou ocupada por um powerpoint com a cara de Salazar no canto inferior direito.
Na fase de perguntas e respostas, César das Neves continuou no mesmo registo e disse que o orçamento do governo PS até "é melhor do que esperava" e que é original por ter "um retificativo ainda antes do orçamento ser aprovado". O economista disse ainda que o "orçamento não tem nada a ver com credibilidade" mas com "dar benesses" a um determinado setor da sociedade.
Na reflexão, César das Neves disse ainda acreditar que "o país é mesmo socialista. Todos os partidos, do CDS ao Bloco de Esquerda, é tudo socialista".