Quarto crime numa semana entre casais de namorados
Foi pela manhã, António Sousa dirigiu-se à pastelaria Real e atingiu mortalmente a ex-namorada. "Se não és minha, não és de ninguém", terá dito. O homicida ainda tentou o suicídio com a mesma arma, mas só sofreu ferimentos ligeiros
Maria Alice Duarte era sócia gerente da pastelaria Real, em Santarém. Ontem, foi atingida mortalmente pelo ex-namorado com um tiro de caçadeira de canos serrados à queima-roupa. O homicida, António Sousa, de 58 anos, e residente em Torres Novas, tentou depois o suicídio, mas ficou apenas ligeiramente ferido e foi internado no Hospital de Santarém. É o quarto caso em pouco mais de uma semana. Especialistas garantem nada ter que ver com o efeito de mimetismo.
Passavam poucos minutos das 10.00 quando se ouviram dois disparos de caçadeira na Travessa dos Bombeiros Voluntários, no coração do centro histórico de Santarém. No interior da pastelaria encontravam-se quatro clientes, uma funcionária, a vítima e o seu sócio, Agostinho Pereira.
Uma das clientes ficou em estado de choque e teve de receber assistência médica. Agostinho Pereira relatou também ter sofrido um dos maiores sustos da sua vida. "Estava a varrer o chão quando ouvi o estrondo e fui a correr para a cozinha, a pensar que tinha havido uma explosão de gás. No caminho ouvi uma cliente aos gritos de que estava ali um homem com uma arma", contou ao DN. "Quando cheguei à cozinha, ainda ouvi o homem a dizer à Maria Alice: 'Tinha-te prometido, tinha de fazer justiça'", recordou, enquanto tomava um calmante para controlar a comoção que sentiu ao ver a colega morta no chão. "Quando entrei na cozinha, vi a minha sócia deitada no chão, ensanguentada, e, logo depois, o homem que estava escondido pôs-se de pé, apontou a arma na minha direcção e disse 'levas também', mas eu baixei-me e passei para trás do balcão, para impedir que ele saísse", adiantou Agostinho. Só que o homicida nem tentou sair. Ouviu-se um segundo tiro, que António Sousa terá disparado contra si próprio. A Polícia foi chamada de imediato ao local e o INEM também.
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Maria Alice Duarte, de 46 anos, estava divorciada há três anos e iniciou há dois meses uma relação com António Sousa, empresário naquela região. Agostinho Pereira, sócio da vítima, contou ao DN que "a relação durou pouco tempo, não deu certo e acabou mesmo em desgraça".
Segundo o sócio da vítima, "há cinco semanas ela deu a relação por terminada e ele viajou para Angola em negócios". Quando voltou, há três semanas, "tentou reatar a relação, mas ela já não o quis ver mais e nem o deixou entrar em casa", disse Agostinho Pereira. Só que António Sousa não se conformou, e terá mesmo perseguido e ameaçado Maria Alice. "A minha sócia fez queixa dele há duas semanas às autoridades, a polícia deteve-o, aprendeu-lhe armas, e ele teve de responder em tribunal na semana passada, tendo ficado a aguardar julgamento em liberdade".
Mas ontem de manhã, António Sousa entrou sorrateiramente na pastelaria Real e cumpriu as ameaças feitas: "Tinha-te prometido que se não fosses minha não serias de ninguém", terá dito o homem, quando desferiu o tiro mortal de caçadeira que matou Maria Alice.
O filho da vítima, de 19 anos, trabalha em part-time numa loja de fotografia ao lado da pastelaria Real. Ouviu os tiros e ainda tentou entrar na pastelaria, mas as autoridades já não o deixaram.
No momento, ficou apenas com a suspeita de que tinha acontecido alguma coisa à mãe, enquanto os polícias o conseguiam convencer a ir à esquadra da PSP, situada a poucas centenas de metros do local do crime, onde mais tranquilamente o informariam sobre tudo o que tinha acontecido no estabelecimento.