Na pergunta que o Bloco enviou ao Ministério da Saúde também se considera que a campanha "confunde público-alvo com discriminação", usa estereótipos e apresenta o tabagismo através de uma "simplificação perigosa" quando diz a frase "Deixe de fumar, opte por amar mais".
"Apresentar uma dependência como um ato de vontade simples, associado a amor, é culpabilizador da pessoa fumadora e simplificador do processo árduo e complexo que é deixar de fumar", dizem os deputados do Bloco que assinam a pergunta ao Governo.
A campanha "Uma princesa não fuma" mostra o relacionamento entre uma mãe fumadora e uma filha e começou a ser exibida na quarta-feira, no mesmo dia em que a deputada socialista Isabel Moreira defendeu que o Ministério da Saúde deveria retirar o vídeo porque a campanha é "misógina e culpabilizante das mulheres".
Hoje, a diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, explicou que a campanha visa diminuir o consumo de tabaco nas mulheres mais jovens, que são quem mais está a fumar.
Relativamente ao slogan "opte por amar mais", a diretora-geral da Saúde esclareceu que se refere ao bem-estar, ao amor à vida e não a terceiros.
O Bloco, tal como Graça Freitas também tinha lembrado, reconhece que o consumo do tabaco é um dos mais graves problemas de saúde pública e cita mesmo dados da Direção Geral da Saúde.
O FILME "POLÉMICO"
O BE considera que "pensar uma campanha de prevenção do tabagismo centrada no papel da mulher mãe, que se deve sentir culpada da pelo meu exemplo que está a passar à filha, é sexista e culpabilizador da mulher".
O partido critica também a forma "estereotipada" como é tratado o papel das meninas filhas, "uma vez que a menina é vista como uma princesa".
"O Bloco de Esquerda considera que esta campanha é desajustada, assentando numa imagem sexista das mulheres e meninas. É possível fazer uma campanha dirigida a mulheres e meninas sem que seja sexista. Não é o caso desta", dizem os deputados do Bloco.
A frase mais forte desta curta-metragem dramática e até chocante é quando a mulher doente se dirige à filha e diz: "Promete-me que vais ser sempre a minha princesa. E lembra-te, uma princesa não fuma".
O objetivo do Ministério da Saúde é mesmo "travar o aumento do consumo do tabaco nas mulheres", conforme é referido em comunicado.
José Ribeiro e Castro, no Twitter, diz que o governo não deve ceder à pressão da "censura".
Um em cada cinco portugueses fuma e o consumo entre as mulheres continua a crescer. A cada 50 minutos morre um português por doenças associadas ao tabaco.
Refira-se que esta campanha já foi elogiada pela Organização Mundial de Saúde, nomeadamente pela diretora do programa de controlo de tabaco, Kristina Mauer Stander, que considerou o filme "comovente" e que representa uma campanha "impactante e inovadora" no combate ao tabagismo.
A curta-metragem "Opte Por Amar Mais" foi realizada por André Badalo, produzida pela Original Features e será exibida na televisão no último trimestre deste ano.