BE, CDS-PP e PS concordam em alterar lei autárquica para candidaturas independentes
Partidos pedem que lei eleitoral autárquica seja revista
Os grupos parlamentares do BE, CDS-PP e PS chegaram a acordo para alterar a lei eleitoral autárquica em relação às candidaturas independentes, apesar das críticas dos sociais-democratas e comunistas.
Segundo explicou o deputado socialista Pedro Delgado Alves, foi elaborado um texto de substituição que visa fundir "as três iniciativas legislativas do PS, Bloco de Esquerda e CDS sobre a revisão da lei eleitoral autárquica, no que respeita nomeadamente sobre a apresentação de candidaturas independentes e a forma de conciliar aspetos menos conseguidos do regime atual, com vista à sua melhoria".
O deputado, que falava na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, acrescentou que a proposta de substituição "praticamente tem a ver com quase todas as matérias" dos projetos de lei apresentados pelos três partidos.
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Na proposta foram também incluídas alterações para responder às solicitações do parecer do Conselho Superior de Magistratura, quanto à necessidade de acautelar "alterações à lei eleitoral autárquica aos ajustamentos ao mapa judiciário", adiantou ainda Pedro Delgado Alves.
No entanto, a proposta não foi votada hoje na generalidade na comissão, tal como estava previsto, devido às objeções do PSD, que pediu mais tempo para analisar o documento distribuído apenas na segunda-feira, criticando que se esteja a alterar a lei autárquica em ano de eleições para o poder local.
O deputado do BE Pedro Soares admitiu que o seu partido gostaria de ter "ido mais além", mas sublinhou que o acordo com o PS e o CDS-PP "é o denominador comum possível" e "melhora a forma de participação dos cidadãos enquanto grupo que se pretende candidatar nas eleições autárquicas".
A proposta comum, por exemplo, protege "de alguma instabilidade que terceiros possam querer criar ao longo do processo de apresentação e atualização da lista, permite substituição de candidatos com justificações devidamente identificadas, melhora a qualidade dos direitos das candidaturas de cidadãos ao longo do processo eleitoral", frisou Pedro Soares.
O deputado Carlos Abreu Amorim, do PSD, notou que o envio do texto de substituição na segunda-feira à noite não permitiu aos deputados conhecerem a proposta com "a profundidade e delicadeza" que merece.
O social-democrata defendeu que existe a conveniência em "separar a lei Moreira da verdadeira lei eleitoral", numa alusão ao pedido do independente Rui Moreira, que preside à Câmara do Porto, para que os partidos alterem a lei eleitoral autárquica de forma a que facilite o processo de candidatura a cidadãos eleitores.
O social-democrata Luís Marques Guedes também criticou a alteração da legislação eleitoral em ano de eleições autárquicas, e Paulo Rios de Oliveira (PSD) acusou mesmo os partidos proponentes de ainda não terem parado "de torpedear a credibilidade do processo".
"As leis eleitorais, sendo leis muito importantes ao funcionamento da democracia, são leis que se devem revestir de grande certeza, garantia e segurança", sublinhou Paulo Rios.
O deputado criticou os três partidos por andarem "a reboque" de "um senhor pré-candidato e presidente de câmara", quando o processo autárquico já se encontra em curso no país.
"É um texto de consenso entre os preponentes, não é um texto consensualizável na comissão", alertou o deputado António Filipe, do PCP, salientando que a proposta junta "matérias distintas", ao incluir as alterações relacionadas com as candidaturas de grupos de cidadãos eleitores e as sugestões do Conselho Superior de Magistratura.
Para o deputado comunista, não será possível juntar as duas questões num texto de substituição: "Se se insiste em amalgamar tudo, como se costuma dizer, arriscamos a deitar fora a criança com a água do banho", frisou.
O deputado Telmo Correia, do CDS-PP, reiterou acordo à proposta de substituição e considerou que se tratam de matérias que não exigem votação por maioria qualificada (dois terços) do parlamento.
Na sequência das críticas do PSD e PCP, o presidente da comissão, Bacelar de Vasconcelos (PS), anunciou que a proposta será debatida numa reunião a convocar para "a próxima semana".
Os projetos de lei do BE, CDS-PP e PS propõem, entre outras alterações, que as candidaturas independentes possam utilizar um símbolo nos boletins de voto, a simplificação na recolha de assinaturas e outras regras na substituição de candidatos nas listas.