Alunos do 4.ºano piores na leitura. Governo e Crato trocam acusações
Portugal caiu 11 lugares entre 2011 e 2016, na avaliação internacional. Só o Irão caiu mais que nós entre 50 países participantes
Os alunos portugueses do 4.º ano pioraram as suas competências de leitura. Entre 2011 e 2016, Portugal passou do 19.º lugar para o 30.º, numa lista de 50 países que participaram nos testes PIRLS (Progress in International Reading Literacy Study). Resultados que o secretário de Estado da Educação, João Costa, citado pelo Público, admitiu não surpreenderem e que se devem a medidas tomadas entre 2012 e 2015, ou seja, nos anos em que era ministro Nuno Crato. Acusações que o ex-governante rejeita, em resposta ao DN.
Defendendo que é preciso uma atenção cuidada aos resultados, Nuno Crato sublinha que o pior será adotar perspetivas apressadas e partidarizadas. Vi os comentários e é curioso o contraste entre a atitude que o governo hoje toma e a que tomou há quase um ano, quando saíram resultados muito mais importantes e significativos, os do PISA e do TIMSS, que nos mostraram a subir continuamente, e de 2011/12 para 2015, e nos colocaram acima da média da OCDE e mesmo acima da Finlândia, na Matemática do 4.º ano.
O secretário de Estado admitiu, na apresentação dos resultados, que estes não nos surpreendem completamente, uma vez que diretores de escolas e professores têm reportado a preocupação com o que se estava a passar no 1.º ciclo: uma excessiva preocupação com resultados e produtos e baixa preocupação com os processos.
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Assim, esta queda na leitura confirma algumas previsões de várias entidades que tinham identificado algumas políticas educativas, como o fechamento das leituras. Ainda assim, João Costa garante que a solução não implica uma revogação ou alteração das metas curriculares, mas uma consolidação de medidas iniciadas no ano passado.
É o caso de alguns programas instaurados pelas próprias escolas no ano letivo passado. Já em abril, maio e junho de 2016 as escolas começaram a identificar como problema a leitura no 1.º ciclo e começaram a implementar projetos, com parceiros como os centros de investigação das universidades e politécnicos, aponta José Verdasca, responsável do Programa Nacional de Promoção do Sucesso Escolar. Outras das medidas para tentar perceber as dificuldades dos alunos é a antecipação das provas de aferição evitando esperar pelo 4.º ano para saber em que nível estão os alunos, acrescentou o secretário de Estado da Educação.
No entanto, Nuno Crato sublinha que a queda nacional de 13 pontos - passámos de 541 para 528 pontos, numa escala de 1000 e onde a média é 500 - não pode ser dissociada do fim dos exames nacionais do 4.º ano. Uma coisa é certa para já: provas realizadas num ambiente de facilitismo, em que as avaliações não servem para nada, em que se propaga que as metas devem ser menos ambiciosas e que o ensino não deve ir tão longe não têm dado bons resultados. Não é a primeira vez que o verificamos.
Para Helder Sousa, presidente do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE), entidade que aplica os testes em Portugal, importa agora fazer análises secundárias para podermos ter explicações para uma descida que em termos técnicos é significativa. Só o Irão (que caiu 29 pontos) desceu mais que Portugal neste estudo.