Alega que foi a companheira a matar a filha, mas PJ contraria tese
A Polícia Judiciária confirmou no julgamento do homem acusado de ter assassinado com dezenas de facadas a mulher e a filha, em Braga, que os indícios apontam para um caso típico de duplo homicídio. Na versão do arguido, teria sido a companheira a assassinar a sua própria filha, o que o teria levado a assassinar depois a mulher.
Zulmira "Paloma" e a filha, Índia Luana, de 32 e de nove anos, mãe e filha, foram assassinadas à facada, alegadamente por Sérgio Estourães, de 36 anos, marido e pai das vítimas, em 22 de Maio de 2010. A mãe dedicava-se à prostituição, e, segundo o testemunho da ama da criança, parte do dinheiro seria para o companheiro. Mas o arguido afirmou-se contra o facto de a sua companheira, uma jovem moçambicana, se prostituir.
No julgamento, a mesma testemunha afirmou que pelo menos duas vezes terá sido o próprio marido a acompanhar a mulher, fazendo-lhe "segurança", enquanto ela se prostituia. Zulmira sofreu 15 facadas e morreu de asfixia por aspiração do sangue dos golpes, enquanto a filha, Índia, foi apunhalada 17 vezes, sendo causa directa da morte o choque hipovolémico subsequente à laceração da artéria ilíaca comum esquerda.
O duplo crime foi cometido numa das duas chamadas Torres Gémeas de Braga, num quadro de prostituição da vítima e de toxicodependência do arguido. Sérgio Estourães admitiu as "discussões violentas" a partir das "dificuldades económicas" do casal, o que o terá levado a cometer um furto, pelo qual cumpre pena de prisão.
Os dois principais investigadores da Brigada de Homicídios da PJ de Braga explicaram às juízas que a única pessoa que tinha ferimentos nas mãos era o arguido, Sérgio Estourães. O que, segundo ambos, com mais de 20 anos de experiência na investigação criminal, indiciará que apenas ele desferiu as facadas. Sobre os ferimentos sofridos no corpo, os dois inspectores afirmaram que tudo indica ter-se tratado de autoflagelação, até pela forma como foram infligidos.
Segundo afirmaram o inspector-chefe Henrique Passos e o inspector Almeno Gonçalves, neste tipo de crimes os agressores ficam sempre feridos nas mãos, porque em tantos golpes, aqueles que incidem sobre superfícies duras, como por exemplo os ossos, levam a que a força do agressor faça deslizar as suas próprias mãos até à lâmina da faca que empunham.
Um agente da PSP que chegou ao local logo a seguir ao INEM confirmou que Zulmira já tinha apresentado queixas contra o companheiro, Sérgio, por violência doméstica, enquanto a ama, inquirida por vídeo-conferência, revelou que "as discussões entre o casal eram frequentes" e que o próprio Sérgio lhe dissera ter sido ele quem de uma vez "rebentou os lábios" da mulher, que teve então de ser suturada com 12 pontos no Hospital de Braga.
Sérgio Estourães declarou que "foi a Zulmira que matou a filha com uma faca de cozinha" e justificou assim ter "perdido a cabeça, indo atrás dela". Segundo o arguido, a filha ainda estaria viva quando iniciou a perseguição. No entanto, ao ser questionado pela juíza-presidente, não explicou porque correu atrás da mulher, deixando a filha a agonizar.