Adepto do Benfica que terá atropelado mortalmente Marco Ficini vai ser libertado
Incidente aconteceu na madrugada de 22 de abril de 2017, antes de um dérbi entre os encarnados e o Sporting
Luís Pina, adepto do Benfica suspeito de ter atropelado mortalmente o italiano Marco Ficini, adepto do Sporting e da Fiorentina, em abril do ano passado perto do Estádio da Luz, vai ser libertado.
Carlos Melo Alves, advogado de Luís Pina, em prisão preventiva desde 29 de abril, disse que o homem "vai ser libertado de imediato", porque não foi proferida decisão instrutória no prazo máximo de dez meses, após a data em que lhe foi aplicada a medida de coação de prisão preventiva.
Esse prazo de dez meses terminou na quinta-feira, 1 de março, e a instrução - fase facultativa e que visa confirmar a acusação do Ministério Público ou o arquivamento do processo -, requerida pelo arguido, só começa em 20 de março no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa.
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No Requerimento de Abertura de Instrução (RAI), a que a Lusa teve acesso, o arguido diz que "nunca teve intenção" de atropelar e "muito menos matar um ser humano", pedindo para não ir a julgamento.
O advogado de Luís Pina refere ainda no RAI que a acusação do Ministério Público (MP) "prima por uma nítida parcialidade na análise das provas e na interpretação dos factos" e "faz tábua rasa de todo um circunstancialismo que rodeou os acontecimentos".
Marco Ficini, de 41 anos, morreu vítima de atropelamento durante confrontos entre adeptos do Sporting e do Benfica, perto do estádio do Benfica, numa madrugada do final de abril do ano passado. O italiano estava com elementos da Juve Leo aquando do incidente. A seguir ao atropelamento o suspeito colocou-se em fuga, entregando-se à Polícia Judiciária alguns dias depois. O itaiano fazia parte de uma claque da Fiorentina, o Club Settebello,
Luís Pina, de 35 anos, tem ligações aos No Name Boys e foi acusado de homicídio qualificado. É o principal arguido de entre 22 que foram acusados da "prática de crimes de homicídio qualificado, na forma consumada, de homicídio qualificado, na forma tentada, de participação em rixa, de dano com violência e de omissão de auxílio".
O suspeito entregou-se à Polícia Judiciária a 27 de abril, alguns dias após o atropelamento mortal, acompanhado pelo seu advogado. Está em prisão preventiva desde 29 de abril.
"No essencial está indiciado que, no dia 24-04-2017, durante a madrugada, sendo esse dia de jogo entre os clubes do Sporting Clube de Portugal e o Sport Lisboa e Benfica, nas imediações do Estádio de José de Alvalade e a Rua Padre Cruz, um grupo de adeptos benfiquistas confrontou-se com um grupo de adeptos sportinguistas", referiu uma nota da Procuradoria-Geral Distrital de Lisboa de outubro.
Situação começou com "lançamento de foguete luminoso"
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), a que a Lusa teve acesso, na madrugada antes do jogo, um grupo de adeptos do Benfica dirigiu-se às imediações do Estádio de Alvalade e efetuou o lançamento de um foguete luminoso de cor vermelha na direção do topo Sul do estádio.
"Depois do lançamento desse foguete luminoso, os adeptos benfiquistas, querendo impedir uma expectável reação dos adeptos sportinguistas junto ao seu próprio estádio, prepararam-se para os manter afastados do Estádio da Luz, se necessário com recurso à violência", refere a acusação.
Um grupo de cerca de 30 adeptos benfiquistas estabeleceu então um posto de controlo para os automóveis que se aproximavam da entrada do Estádio da Luz. Nesse contexto, estes adeptos deram ordens de paragem a vários condutores, que só prosseguiam viagem após os adeptos benfiquistas se certificarem de que no veículo não seguiam adeptos sportinguistas.
Ao mesmo tempo, acrescenta o MP, outros adeptos benfiquistas, entre eles dois dos arguidos, "muniram-se de pedras da calçada e permaneceram escondidos nas imediações do Estádio da Luz, enquanto aguardavam pela chegada dos adeptos sportinguistas, que pretendiam surpreender e afastar à pedrada".
Adeptos sportinguistas, que se encontravam no Estádio de Alvalade a distribuir bilhetes e a preparar as coreografias da claque 'Juventude Leonina' para o jogo que iria decorrer nesse dia, colocaram-se então em diversos automóveis e, em caravana, dirigiram-se ao Estádio da Luz a fim de "ripostarem" pelo lançamento do foguete luminoso, levando consigo barras de metal.
Na caravana seguiam 12 dos arguidos, adeptos do Sporting, e ainda Marco Ficini, simpatizante do Sporting que tinha viajado de Itália para assistir ao jogo de futebol entre o Sporting e o Benfica.
"Assim que os adeptos do Sporting chegaram à rotunda Cosme Damião, junto ao Estádio da Luz, o arguido Luís Pina conduziu o seu veículo, em alta velocidade, em direção àquela rotunda, que se encontrava bloqueada pelos veículos dos adeptos do Sporting", conta o MP.
Simultaneamente, nove dos outros arguidos, adeptos do Benfica, correram em direção à mesma rotunda, "munidos de pedras da calçada, que arremessaram contra os adeptos do Sporting".
Apercebendo-se de que a rotunda se encontrava bloqueada, o arguido Luís Pina parou o veículo onde seguia e, de imediato, relata a acusação, "começou a ser apedrejado e vandalizado com objetos metálicos pelos adeptos sportinguistas".
Durante os confrontos e perseguições que se seguiram, Luís Pina atropelou mortalmente Marco Ficini, "arrastando o corpo por 15 metros", imobilizando o carro só "depois de ter passado completamente por cima do corpo da vítima", descreve a acusação, acrescentando que o arguido abandonou o local "sem prestar qualquer auxílio".