Gasolineira construída em terreno vulcânico
A bomba de gasolina assente sobre um terreno vulcânico nas Furnas, em São Miguel, cujo calor do subsolo atinge temperaturas de cem graus centígrados, começou a funcionar esta semana. As críticas à construção e funcionamento do estabelecimento não param devido ao perigo do calor excessivo no seu subsolo.
A começar pelo vulcanólogo Victor Hugo Forjaz que, apesar de constatar as melhorias introduzidas na segurança do complexo, alerta para a possibilidade do tanque do posto combustível ter de ser deslocado se a temperatura do solo aumentar. Ou, então, se houver migração do calor emanado pelo campo fumarólico daquele local.
Apesar de não haver risco de explosão pelo facto do estabelecimento ter um novo tanque de combustível - com materiais especiais de protecção e um sistema inovador de recuperação de gases - a verdade é que o sítio para o investimento não foi bem escolhido.
"As Furnas são um sítio de risco e não pode haver um lugar totalmente protegido. Mas aquela zona obriga a cuidados especiais de monitorização e vigilância", disse ao DN Victor Hugo Forjaz. Para quem, no entanto, o problema não se colocaria com a mesma gravidade, caso a estrutura tivesse sido edificada apenas vinte metros mais ao lado.
Seria até "mais económico para o proprietário", já que o terreno adjacente ao posto de combustível é mais arejado e, assim sendo, a possibilidade da "gasolina se evaporar" é menor, explicou.
Além da questão ambiental resultante do risco geológico da zona, o problema passou a ser também económico. Isto é, "quem pensa que está a meter 10 litros de gasolina no depósito do carro, afinal está é a meter 9,5 litros", salientou.
Victor Hugo Forjaz responsabiliza as entidades licenciadoras pela abertura do posto de combustível, entre as quais a Câmara Municipal da Povoação. Mas também os técnicos que deram o seu aval no estudo geotécnico que realizaram durante a preparação do projecto inicial.
Mas o presidente da Câmara Municipal da Povoação refuta as críticas relativas a um estabelecimento que, na sua opinião, já deveria estar aberto há uma década. Sobretudo porque a questão da segurança, relativamente a pessoas e bens, está salvaguardada.
"Já estamos habituados às opiniões que nos pretendem dificultar a vida todos os dias. De cientistas e de outros 'istas' que tudo fazem para que nos mantenhamos em estado de natureza virgem para seu gáudio pessoal", criticou Carlos Ávila.
O autarca lembra ainda que a freguesia está implantada sobre vulcões mais ou menos activos, o que significa que, não fazer obra nesta localidade ex-libris do turismo açoriano, seria como que mantê-la em "estado de natureza virgem".
Carlos Ávila desdramatiza a polémica e os receios à volta da bomba de gasolina. Sobretudo porque "terrenos quentes com fumarolas permanentes existem por todo o lado nas Furnas". Todavia, o concelho da Povoação "precisava deste investimento já há muitos anos. Atrevo-me a dizer que chega com dez anos de atraso".
A administradora da empresa AC Cymbron, Sónia Borges de Sousa, responsável pela exploração daquela bomba de gasolina, reafirmou que, com os investimentos efectuados ao nível da segurança, a nova bomba de gasolina das Furnas está entre as "mais seguras dos Açores".