A ciência deles já rende milhões às universidades
Lisboa (120 milhões), Aveiro (43,3 milhões) e Coimbra (20 milhões) são três casos de ganhos. Sem valor definido, também se elogia a criação de propriedade intelectual
A ciência procura encontrar soluções para problemas do dia-a-dia e dessa busca surgem por vezes ideias de negócio que acabam por se tornar bem rentáveis. Na Universidade de Lisboa, representa cerca de 120 milhões de euros anuais, em Aveiro a parcela fica-se pelos 43,3 milhões e em Coimbra pelos 20 milhões. As contas foram feitas a todas as verbas que são angariadas como receitas próprias das universidades e que não vêm nem do Orçamento do Estado nem das propinas e outras taxas. Assim, tudo o que é trabalho contratado aos técnicos, laboratórios e investigadores das universidades pode ser considerado investigação. Mas a estes valores falta ainda o cálculo das mais-valias de criar propriedade intelectual ou até dos equipamentos que as instituições ganham através de projetos financiados.
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Nas três instituições questionadas - o DN tentou perceber junto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior se existe alguma estimativa do valor da investigação feita em Portugal, mas não obteve resposta - é cada vez mais frequente a criação de empresas spin-off de investigações que começaram nos seus corredores.
Empresas nascidas da Universidade de Coimbra faturaram mais de cem milhões
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Em Aveiro, das 66 empresas da Unidade de Transferência de Tecnologia (UATEC), 17 são spin-offs. Em Coimbra, as duas incubadoras universitárias já apoiaram o início de mais de 250 empresas, que em 2015 tiveram uma faturação superior a cem milhões de euros.
Apesar de reconhecer que os resultados das investigações são cada vez mais comercializáveis, Luís Silva, investigador e presidente do Conselho Científico do Instituto Superior Técnico (da Universidade de Lisboa), lembra que as escolhas desses estudos "dependem dos interesses pessoais dos investigadores, da estratégia dos centros de investigação e das próprias universidades". Daí que entre os casos de sucesso referidos pelas universidades estejam projetos tão diferentes como um teste de linguagem, a produção de radiofármacos ou a microbiologia com a produção de espumantes e vinhos.
Entre as áreas que mais facilmente acabam em ideias de negócio rentável estão a saúde, o ambiente, a robótica, a energia, materiais e a informática, enumera a Universidade de Coimbra. Em Aveiro, o destaque vai para as tecnologias de informação e comunicação, engenharia e ciência de materiais, agroalimentar, design, educação e saúde.
As áreas das tecnologias, ambiente e saúde também são apostas em Lisboa. "Na base da investigação com impacto no mercado está a investigação fundamental", porém Luís Silva alerta que "toda a atividade científica é feita de muitas tentativas e de avanços e mesmo na investigação ligada ao mercado existem sempre caminhos que não conduzem a resultados comercializáveis".
No caso dos projetos em que esteve envolvido, o investigador e professor catedrático aponta como produto mais rentável "as próprias pessoas que formamos". "Este é um aspeto que é central na missão da universidade e representa aliás o recurso mais precioso do país. Por exemplo, um dos doutorados do meu grupo é o CEO da empresa LusoSpace, que tem contratado outros doutorados do meu grupo, e um outro aluno de doutoramento trabalha atualmente na Critical Software. A contribuição destas pessoas nas empresas é extremamente valiosa e tem um aspeto multiplicativo", exemplifica.
A procura de empresas por investigações que resolvam os seus problemas tem também ajudado as universidades nos resultados.