"Ou não há Governo [de direita], ou há Governo com o Chega"
Líder do Chega recandidatou-se por acreditar ter condições nos próximos quatro anos para levar o partido "ao que ele merece", ou seja, a liderar um Governo. "Que o teto me caia em cima da cabeça se não havemos de ser um dia líderes do Governo", disse.
O presidente do Chega, André Ventura, voltou este sábado a recusar uma "geringonça à direita", avisando que sem o seu partido não haverá um Governo com o PSD.
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"Só há duas hipóteses. Ou não há Governo [de direita], ou há Governo com o Chega, não há outra hipótese para além disso", salientou, em declarações aos jornalistas, antes da recomeço dos trabalhos da V Convenção Nacional do partido, após a pausa para almoço.
Ventura afirmou que, enquanto for presidente do partido, "não haverá nenhuma geringonça de direita em Portugal, pelo menos em que o Chega seja parte".
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Momentos antes de votar para a liderança do partido, onde é candidato único, André Ventura afirmou que a única solução que poderá haver "é uma coligação governamental".
"O Chega exige ser corresponsabilizado pelo Governo da República e não apenas deixar essa responsabilidade para o PSD, porque temos tido governos do PSD que não têm sido muito diferentes dos do PS", criticou.
O líder indicou que, caso o Chega seja necessário para uma solução de Governo à direita nas próximas eleições legislativas, "exigirá a participação nesse Governo".
Apesar de reconhecer a "distância significativa" entre os dois partidos nas intenções de voto, o Chega vai lutar para "liderar esse Governo", disse.
"Se o Chega liderar esta coligação há outra decisão que é preciso tomar: [verificar] se o PSD está capaz de mudar o seu ADN ou mudar algumas características do seu ADN para corresponder a um novo estilo de governação que vai ser o do Chega", considerou.
André Ventura considerou necessário "chegar a acordo em algumas matérias", como "a reforma da justiça, o reforço do sistema político, a enorme injustiça no sistema fiscal".
São "áreas difíceis que exigem muita negociação, muita aproximação porque são de mudança do sistema estrutural do país", declarou.
Questionado sobre os ministérios que gostaria que o partido liderasse, André Ventura considerou que "mais do que a questão de quem ocupa os ministérios, é que o Chega tenha um papel a dizer sobre a execução desses ministérios".
O presidente do Chega indicou que "não vai ser fácil qualquer entendimento", mas considerou que o líder do PSD, Luís Montenegro, "percebeu algo que Rui Rio [o antecessor] não tinha percebido, não pode haver linhas vermelhas, senão o risco é não haver Governo".
"Acho que temos o caminho mais aberto para a possibilidade de começarmos a criar a tal alternativa que o PR pediu, caso o governo socialista caia, como parece que dificilmente se aguentará", salientou.
Questionado se vai apresentar propostas concretas para o país durante esta convenção, na qual estão previstos quatro discursos seus, Ventura disse que num primeiro momento falou para o partido porque "primeiro é preciso ganhar os partidos para depois falar para o país".
"Ontem [sexta-feira] e hoje estamos a falar sobre o Chega e sobre o futuro do Chega, hoje à noite e amanhã [domingo] estaremos a falar para o país", adiantou, referindo que o partido foi aquele que mais propostas apresentou de alteração ao Orçamento do Estado.
O Chega realiza até domingo, em Santarém, a sua V Convenção Nacional, marcada na sequência do chumbo dos estatutos pelo Tribunal Constitucional. Porém, o partido decidiu regressar aos estatutos originais, de 2019, e ajustar os órgãos, em vez de os voltar a alterar este fim de semana.
Depois da eleição do presidente, o partido vai eleger no domingo os órgãos nacionais.
O "vírus" do socialismo
Ventura justificou este sábado a recandidatura ao cargo com as condições que considera ter para melhorar os resultados eleitorais do partido, que é "a única cura" contra o "vírus mortal" do socialismo. "Só faz sentido recandidatar-me hoje com o objetivo de melhorar em muito aquilo que atingimos", afirmou, na apresentação da moção com que se recandidata à liderança.
"Tomei a decisão de me recandidatar, por entender que tenho condições nos próximos quatro anos para levar este partido ao que ele merece, a liderar um Governo de Portugal", salientou, apresentando os três "grandes objetivos" que tem para o futuro: "Vencer cada uma das eleições, mostrar que somos o principal partido português e o teto me caia em cima da cabeça se não havemos de ser um dia líderes do Governo de Portugal".
Apesar de reconhecer que não pode prometer "vencer as eleições" nem "um resultado acima do que o PSD terá", o líder do Chega garantiu que vai "lutar por isso".
Ventura disse querer conquistar votos entre os abstencionistas e apresentou o Chega como a "única cura" contra o "vírus mortal que é o socialismo". "Essa cura tem de ser um Chega firme, um Chega forte e sem medo das palavras", salientou.
Apontando que o PS "estendeu um polvo enorme em Portugal", André Ventura afirmou que "o PS é como um vírus que passa pelo corpo nacional", que "contaminou inclusive aqueles que o deviam combater".
Atirando ao PSD, o líder do Chega sustentou também "que a oposição não tem feito de oposição, não tem feito o trabalho para que foi mandatada" e tem "medo, que só não está agora ainda mais próxima do PS porque há um partido que se chama Chega e ganharam um pouco de vergonha ao estarem tão próximos do PS".
"Nós nascemos com um projeto de Governo, com um projeto de poder alternativo", defendeu, considerando que "há um único partido que lidera a oposição, que eleva os 'soundbites'" no parlamento, "que se irrita e se enerva, como todos os seres humanos, porque sofre" as "dores que os portugueses estão a sofrer em casa".
O presidente do partido, e candidato único, referiu que atualmente "milhões de portugueses têm dificuldade em pagar as contas básicas da sua casa, em abastecer os automóveis, em saber se o seu filho ou filha vão ter emprego quando saírem da universidade, se os avós vão ter dinheiro para pagar o lar".
"Não vale de nada entretermo-nos com guerras internas se não tivermos a mensagem que os portugueses querem", salientou, defendendo que os deputados e dirigentes do partido têm de ser "os porta-vozes da esperança".
No arranque da sua intervenção, Ventura assinalou que, desde as eleições legislativas do ano passado, "todos os líderes da direita parlamentar foram alterados", referindo-se às mudanças nas lideranças de PSD, IL e CDS-PP e repetiu uma das ideias do seu primeiro discurso, que não se recandidatar "seria uma enorme cobardia política".
Na apresentação da moção com que se recandidata à liderança, André Ventura garantiu também que quando entender já não ter condições "pessoais, políticas ou outras" para levar o partido "mais longe", ninguém terá de o "empurrar ou mostrar a porta". "Como todas as democracias e em todos os partidos democráticos, eu sairei pelo meu próprio pé e estarei aí sentado ao vosso lado no próximo rejuvenescimento deste partido", afirmou.
atualizado às 17.50