"Portugal não está como a Grécia por causa do PS. Como? Perdão?", ironiza Portas

Vice-primeiro-ministro responde a Costa e diz que os portugueses não têm nada a ganhar com manifestações de "solidariedade ideológica".

No rescaldo do referendo na Grécia, Paulo Portas respondeu esta segunda-feira a António Costa e insistiu na mensagem da prudência e caldos de galinha que tem vindo a transmitir. O vice-primeiro-ministro voltou a lembrar as oscilações do discurso do secretário-geral do PS sobre a crise grega, cuja situação fez questão de diferenciar da portuguesa. E, por isso, na abertura das jornadas parlamentares conjuntas entre PSD e CDS-PP alfinetou o líder socialista: "O que é que Portugal teria a ganhar em associar a sua situação a uma situação como a da Grécia? Poderíamos estar a fazer proselitismo ideológico mas o interesse nacional tem de prevalecer sobre visões partidárias."

Para o presidente centrista, o resultado do referendo ao eventual acordo entre o governo de Atenas e as instituições europeias tem de ser respeitado, embora tenha apelado ao fim de "euforias ideológicas, até porque a realidade corre o risco de as desmentir". "Bom senso precisa-se", atirou Portas, num recado para fora, mas sobretudo para a oposição nacional. E agora, notou, "cabe ao governo grego propor soluções, alternativas viáveis e justas".

Numa intervenção em Alcochete, que durou mais de 40 minutos, passou então ao ataque, tendo sempre Costa sob ponto de mira. As reações do PS ao impasse na Grécia, sublinhou, demonstram que "se havia já razões para ter receio da incapacidade do PS perceber a natureza dos problemas, esse receio é neste momento mais profundo e mais denso" e desafiou o líder "rosa" a atentar nas palavras de responsáveis socialistas por essa Europa fora, "mais exigentes" e "menos generosas" que as dos membros do executivo liderado por Pedro Passos Coelho.

Falava do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, do vice-chanceler da Alemanha, Sigmar Gabriel, do vice-presidente do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio, e também do primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, do presidente francês, François Hollande. Se o PS quer outra política europeia deve em primeiro lugar queixar-se dos seus homólogos por essa Europa fora", reforçou o vice-primeiro-ministro, que regressou a janeiro deste ano para citar António Costa, quando este disse que a vitória do Syriza na Grécia traduzia "a força da mudança que todos devemos seguir".

E se Costa afirmara, dois dias antes, que "Portugal não está como a Grécia por causa do PS", Portas puxou da ironia: "Como perdão? Quem é que trouxe e negociou com a troika e colocou Portugal na mão do sindicato de credores?" Esse tipo de declarações, para o número dois do governo, revela que o PS "nunca foi capaz de fazer uma revisão crítica do que fez em 2011" nem de ter "uma palavra de emenda e retificação" sobre o seu desempenho nos últimos dois executivos, daí ter "esta ambiguidade sobre a Grécia".

"Se o dr. António Costa fosse primeiro-ministro, mal o Syriza ganhou, tinha corrida a fazer solidariedade ideológica, e de caminho não separava Portugal dessa instabilidade [grega] e prejudicava a capacidade de Portugal recuperar a sua credibilidade", prosseguiu. Já em tom de campanha, procurou semear a ideia de que as próxima eleição [as legislativas] "é racional, não é ideológica" e ensaiou um apelo mais emotivo: "Não sei se os outros têm alguma coisa a perder - e tenho muito respeito pelo sofrimento e pela humilhação que sofrem - mas os portugueses têm certamente muito a perder."

Sobre as legislativas deste ano, Portas frisou ainda que "os portugueses sabem que podem escolher um governo soberano" mas alertou que é preciso "proteger" o crescimento da nossa economia e os sinais de recuperação do emprego. A coligação "Portugal à Frente" promete "gradualismo" e um "plano viável", ao contrário do que classifica como a "ilusão" socialista. "Não andamos a prometer que repomos tudo a toda a gente, que isso levar-nos-ia direitinhos à situação de 2011".

A rematar, falou daquele que pode vir a ser o registo da campanha. Com vários casos judiciais ainda pendentes, Portas defendeu que a coligação não deve "ripostar a uma campanha de incidentes e de casos", sobretudo quando os resultados possam ser favoráveis a sociais-democratas e centristas: "Os nervos vão ser muitos e a tentação de fazer uma campanha de casos e ofensas vai ser grande e não podemos responder nessa medida."

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