PCP. De comboio para Beja para discutir o Alentejo e o país 

Grupo parlamentar do PCP reúne-se durante dois dias em Beja para debater problemas do distrito e do país e anunciar novas propostas na Assembleia da República.

É de comboio que os deputados do PCP partem esta segunda-feira para Beja, para umas jornadas parlamentares que se vão dividir entre os problemas específicos do Alentejo e a situação do país. Longe dos tempos em que o PCP tinha uma palavra a dizer quanto às medidas da governação socialista, a mira está apontada ao Executivo de António Costa, que o PCP coloca lado a lado com a direita. Com uma agenda de dois dias que passa pelos direitos laborais e sociais, pela Saúde ou pela necessidade de apoio à produção nacional, a iniciativa da bancada comunista terminará com o anúncio de novas propostas legislativas a apresentar na Assembleia da República.

Começando pelo início, o comboio não é por acaso. A ferrovia e a falta de concretização de investimentos neste se setor é um dos temas em destaque nas jornadas parlamentares do PCP. "Não podemos ficar só pelos anúncios e pelas palavras, é preciso concretizar", diz ao DN a líder da bancada comunista, Paula Santos - "Estamos a falar de um meio de transporte que é estruturante quer para o transporte de mercadorias, quer para o transporte de passageiros, para promover a mobilidade e a acessibilidade das populações". Pelo caminho, os deputados comunistas falam com trabalhadores e utentes e, já em Beja, o programa das jornadas passará por outro problema de acessibilidade, este rodoviário, com uma visita às obras inacabadas do IP8". Ao final do dia, o PCP promove uma audição pública subordinada ao tema o "O distrito de Beja tem futuro!" e que deverá passar também por outra questão relativa aos transportes - o aeroporto de Beja. Há muito que o PCP defende que esta estrutura deve merecer um melhor aproveitamento e, na última quinta-feira, foi aprovado na Assembleia da República um projeto de resolução dos comunistas a defender o "aproveitamento de todas as potencialidades do aeroporto", uma infraestrutura com "uma importância estratégica para o País e " para a região de Beja", decisiva na "promoção da coesão territorial" quer pelas "repercussões ao nível da riqueza e do emprego que gera", quer "pela sua localização numa posição geoestratégica entre Lisboa e o Algarve." O que é particularmente relevante, sublinha Paula Santos, tendo em conta "que o aeroporto de Faro está a entrar numa situação de sobrelotação".

Promover a produção nacional

O segundo dia das jornadas parlamentares terá um especial foco no setor agrícola, quer na perspetiva dos direitos laborais, em particular "a exploração laboral que afeta muitos imigrantes", quer do ponto de vista da produção nacional, que o PCP diz estar muito aquém do que é possível. "Teremos encontros com produtores para abordar a questão dos apoios aos setores produtivos, em particular na agropecuária", sublinha Paula Santos. "O PCP tem colocado muito em cima da mesa a necessidade de travar os aumentos especulativos, de recuperar poder de compra, mas também aspetos que vão estar presentes nas jornadas, como a necessidade de promover a produção nacional. Nós temos inúmeras potencialidades que podem e devem ser colocadas ao serviço do país", refere a líder parlamentar comunista, defendendo que a produção alimentar no país "é muitíssimo insuficiente" - "Temos capacidade para mais: os cereais são um exemplo dessa realidade".

Uma questão que, inevitavelmente, leva a outro tema com presença garantida nas Jornadas Parlamentares do PCP. Após semanas marcadas por sucessivas polémicas no Governo Paula Santos diz não desvalorizar os casos que têm vindo a público, mas sublinha o "contexto de agravamento das condições de vida dos trabalhadores e do povo". "Os salários e as pensões têm vindo a ter uma perda real, não há uma recuperação do poder de compra, muito pelo contrário, aquilo que prossegue, em 2023, com as decisões que o Governo tomou, é continuar a perder poder de compra, empurrando os trabalhadores e os reformados para o empobrecimento", critica a deputada do PCP, sustentando que é "uma evidência a necessidade do controlo e fixação de preços". "Não faz nenhum sentido que a grande distribuição tenha lucros colossais, com preços cada vez mais elevados, tornando cada vez mais difícil adquirir bens essencial como os alimentos, que em muitos casos aumentaram de forma muito significativa, com aumentos de 15%, 20%", argumenta Paula Santos, acrescentando que "esta é uma realidade que exige resposta". Que não tem sido dada: "Aquilo que temos visto é a recusa por parte do Governo, mas recusa também por parte dos partidos à sua direita, do PSD, da Iniciativa Liberal e do Chega".

As Jornadas do grupo parlamentar do PCP - atualmente com seis deputados - iniciam-se esta segunda-feira com uma intervenção do secretário-geral do partido, Paulo Raimundo. O mesmo é dizer que será a primeira vez, nos últimos 19 anos, que o encontro parlamentar dos comunistas não terá como protagonista Jerónimo de Sousa, que deixou a liderança em novembro último. Muda alguma coisa? Aparentemente não: "Estará presente o secretário-geral".

susete.francisco@dn.pt

Mais Notícias

Outros Conteúdos GMG