Passos reedita "que se lixem as eleições" e admite perder deputados
Primeiro-ministro já faz contas mas insiste na mensagem de "prudência". E alerta que a coligação não trará "nem a salvação, nem o inferno"
Pedro Passos Coelho revisitou, num jantar com os deputados do PSD, a célebre expressão "Que se lixem as eleições" proferida há dois anos também perante uma plateia de parlamentares sociais-democratas. O primeiro-ministro reiterou que os resultados alcançados pelo país consigo ao leme são mais importantes que o desfecho das legislativas do outono, pelo que, apesar do registo de campanha, admitiu "só por milagre" todos os deputados presentes voltariam a ser eleitos.
"Agora que temos oportunidade de termos um prémio mais generoso [próxima legislatura com menos sacrifícios] não o vamos desbaratar apenas para para poder ter a mira de eleger mais uns quantos deputados, que nunca deixariam de fazer muita falta", afirmou o presidente do PSD, muito aplaudido pelo universo "laranja" e ladeado por vários ministros e dirigentes nacionais do partido.
Já fazendo contas de cabeça, Passos alertou que "nem todos os deputados bisarão o seu mandato", ou seja, reconheceu implicitamente e pela primeira vez que a coligação Portugal à Frente (PSD-CDS) poderá ter menos assentos no hemiciclo.
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Num registo de agradecimento e mobilização, o primeiro-ministro regressou a 2011 para lembrar de onde o governo partiu - os défices de José Sócrates. Recuperou o relatório da primeira avaliação da troika - que detetou um desvio no orçamento de dois mil milhões de euros - para destacar que já há aí teve de fazer um "esforço colossal" para pôr as contas do país em ordem. Apesar do esforço, Passos avisou, em jeito de remoque a António Costa, sobre a "importância de ser prudente e não andar aos ziguezagues". "A nossa estratégia não traz a salvação nem o inferno aos portugueses", reforçou, insistindo na mensagem de "prudência", já usual na coligação.
"Nunca por nunca trocaremos esta confiança, esta prudência, por resultados eleitorais que nos ajudassem a construir uma solução mais do nosso agrado", avisou, tendo como contraponto as propostas dos socialistas de alívio mais rápido da austeridade. As eleições, acrescentou, "só são decisivas se soubermos que aquilo que estamos a fazer é para valer". Tradução? Que as medidas implementadas "no médio e longo prazo não vão trazer mais amarguras" aos portugueses.
A rematar, e recordando os vaticínios da oposição - que acusou de ter "nostalgia" - de um segundo resgate, de um programa cautelar ou da espiral recessiva, Passos apontou para um quatro anos com o cinto mais folgado, apenas possíveis pelo trabalho até aqui desenvolvido. "Estes quatro anos ficarão na história por poderem abrir quatro anos de crescimento e correção das assimetrias, de geração de emprego e transformação do país como há muito não pressentíamos", sentenciou.