Passos em campanha. "Hoje podemos dizer que foi a estratégia certa"

Último debate quinzenal da legislatura aproveitado pelo primeiro-ministro para fazer o "autoelogio". Rejeita ter feito cortes às "pessoas com rendimentos mais baixos". Com uma sondagem de pano de fundo.

A sondagem desta sexta-feira do DN, JN, RTP e Antena 1 - que aponta para um empate técnico entre a coligação PSD/CDS e o PS, com ligeira vantagem para a direita - nunca foi explicitamente mencionada nas intervenções do último debate quinzenal, mas Passos Coelho quase parecia sorrir quando criticou os socialistas por, no entendimento do primeiro-ministro, desejarem que "o país estivesse pior". "Se nós estivéssemos pior, talvez isso acentuasse a necessidade de mudança de governo", notou.

O primeiro-ministro iniciou de forma quase desconcertante a sua primeira intervenção, falando de como "Portugal apesar da crise conseguiu melhorar a forma como integra os imigrantes", citando um relatório apresentado na semana passada.

Desta conclusão, Passos Coelho partiu para outra: "Agora que o pior da crise está ultrapassado", como afirmou, "está na altura de acolher todos aqueles que sendo portugueses procuraram outras economias para ter resposta ao nível da sua empregabilidade". Neste momento, garantiu, esses emigrantes têm "melhores condições para regressarem à economia portuguesa e a Portugal".

A situação da Grécia. Começava o período de autoelogios, com a comparação inevitável com a Grécia. "A zona euro exibe hoje uma condição de resiliência muito maior, com Portugal ou a Irlanda a não estarem desesperados, inquietos, ansiosos, a saber quanto tempo demorarão a ter de pedir ajuda externa se algum risco, nomeadamente do lado da Grécia, se vier a materializar." "Hoje podemos dizer que foi a estratégia certa"

Para Passos Coelho, "é de valorizar o facto de Portugal poder ser encarado como um país que não será apanhado desprevenido pela incerteza e pela materialização de riscos na zona euro, na medida em que está prevenido do ponto de vista do encaixe financeiro para fazer face durante bastante tempo a qualquer volatilidade dos mercados".

O primeiro-ministro alegou que Portugal é hoje considerado um país com "uma economia que está a recuperar" e que, "tendo ganho credibilidade, consegue posicionar-se no coração da Europa como um país merecedor de confiança".

O lider parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, quis no entanto saber se o Governo já tinha enviado para Bruxelas a correção do seu programa de estabilidade, onde se inscreveu 600 milhões de cortes na Segurança Social. Passos Coelho passou à frente, sem nunca responder ao tema.

Cortes de rendimentos. Perante as acusações das bancadas de oposição, o primeiro-ministro retomou o que diz serem "mitos urbanos" sobre o que foi dizendo ao longo destes quatro anos. Depois rejeitou ter feito cortes nos rendimentos mais baixos. "As pessoas com rendimentos mais baixos não foram afetadas por cortes. Os senhores deputados também acham que foi um mito urbano?" Disse-o uma vez, repetiu-o outra vez. "Vou voltar a dizer: as pessoas com rendimentos mais baixos não foram objetos de cortes, nem na função pública nem nas pensões." E foi muito aplaudido pelas duas bancadas da maioria.

Passos Coelho recusou mesmo os exemplos dados por Catarina Martins, de cortes no rendimento social de inserção (RSI), no complemento social para idosos (CSI), no subsídio de desemprego e no subsídio social de doença. "Não houve da parte do Governo não houve nenhum corte no RSI, no CSI, as alterações que foram introduzidas visaram garantir que recebiam aqueles que mais precisavam."

A porta-voz do Bloco de Esquerda apontou o dedo ao primeiro-ministro e ao governo. "Os senhores da maioria prejudicaram e muito as pessoas com mais baixos rendimentos. Os senhores da maioria PSD e CDS aumentaram a pobreza em Portugal e hoje uma em quatro pessoas é pobre. Mentir sobre isto e um insulto profundo à dignidade humana."

Antes, o líder parlamentar do PS, Ferro Rodrigues, criticou o indisfarçável contentamento de Passos. "O país do Presidente da República e do Governo definha e os senhores comemoram", disse. Na resposta, o primeiro-ministro defendeu-se, incluindo na sua defesa Cavaco Silva. "Os senhores só veem passivo, como se o país estivesse ainda em recessão. Mas nós vemos o passivo herdado e os dados que indiciam recuperação. Não compreendo o azedume e o ressabiamento do PS em relação ao Governo e ao Presidente da República", atirou.

TAP, "lama" e "negociatas". Com as críticas generalizadas à privatização da TAP, feitas pelas bancadas da oposição, Catarina Martins, do Bloco de Esquerda, somou um episódio sobre a privatização dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), feita há um ano. Lendo a edição do Diário da República de 8 de junho, onde se faz um ajuste direto no valor de 77 milhões de euros à empresa que ficou com os ENVC, a porta-voz do BE concluiu que "quando os estaleiros eram públicos, o Estado cancelou o contrato. Vende os estaleiros a uma empresa privada. E depois o Estado faz ajustes diretos a essa empresa privada". E atirou: "Isto é negociata. Isto é ataque ao interesse público."

Sobre a TAP, Ferro Rodrigues pediu para conhecer os documentos da privatização e deixou perguntas concretas. "É ou não verdade que o Estado vai negociar previamente a dívida e que garantirá essa dívida, como disse o ministro da Economia [Pires de Lima]?" Mas a estas perguntas, Passos respondeu indignado, dizendo que são intoleráveis as "suspeições" e "lama" lançadas pelo PS sobre a privatização da TAP.

Já Jerónimo de Sousa defendeu que a privatização foi um negócio que "serve apenas os interesses do consórcio luso-americano" e que é "inadmissível ouvir um primeiro-ministro dizer que mais vale saldar meia TAP do que ir o resto à falência". "Quer mostrar serviço antes de sair de cena. Há necessidade de trazer à Assembleia da República e informar o país em relação a esse processo. Vai ver que assim acaba logo com a suspeição", criticou o secretário-geral comunista.

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