Mais de 2.500 no apelo à suspensão do encerramento da empresa de Viana
Mais de 2.500 pessoas, segundo números da PSP, associaram-se hoje à iniciativa "A construção naval não pode morrer", apelando à suspensão do encerramento dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC).
"Hoje tivemos aqui uma manifestação grandiosa, de todos os setores partidários, da esquerda à direita, do norte a sul, com toda a sociedade a dizer que é preciso parar este processo. É preciso parar para tomar uma boa decisão, porque este é um setor estratégico para o país", afirmou José Maria Costa, presidente da Câmara local, entidade que organizou esta iniciativa.
O ex-Presidente da República, Mário Soares, marcou presença em Viana, tendo sido uma das mais aclamadas intervenções da tarde, que envolveu políticos, sindicalistas e até atletas, na qual manifestou a sua "solidariedade" para com os trabalhadores da empresa.
"É sempre possível fazer coisas bem feitas", afirmou Mário Soares, questionado pelos jornalistas sobre a possibilidade de ainda ser possível travar o encerramento dos ENVC.
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"Estes homens [trabalhadores] estão no seu direito de lutar e devem continuar a lutar", disse ainda o histórico líder socialista, momentos antes de declarar o apoio à causa dos trabalhadores e do concelho, precisamente no dia em que completou o 89.º aniversário.
"Vim aqui para estar com vocês e ser solidários com vocês", afirmou, perante a multidão que encheu por completo a Praça da República, durante uma tarde que envolveu ainda vários momentos musicais.
Apelos à "investigação" da gestão dos ENVC nos últimos anos e à suspensão do processo de subconcessão e encerramento da empresa foram os mais ouvidos, lançados também a partir do palco, colocado na principal praça da cidade de Viana do Castelo, por onde passaram ainda várias associações locais e até atores a declamarem poesia.
"Nós temos em Viana do Castelo um centro de competências que não podemos decapitar. Esta é a mensagem que estamos a transmitir", apontou o autarca socialista José Maria Costa.
A comissão de trabalhadores dos ENVC voltou a apelar à suspensão do processo de subconcessão ao grupo Martifer e o consequente encerramento da empresa pública, prevendo já uma nova manifestação para 13 de dezembro na cidade.
"Vamos lutar até à exaustão. Senhor ministro, deixe-nos trabalhar", atirou António Costa, porta-voz dos trabalhadores, recordando que em dois anos e meio convidou seis vezes, por escrito, o ministro da Defesa a visitar a empresa, sempre sem sucesso.
Já a eurodeputada socialista Ana Gomes reafirmou as dúvidas sobre a condução deste processo por parte do ministro da Defesa, acusando José Pedro Aguiar-Branco de "gestão danosa" e de "passar a pataco" a empresa para privados.
"Os responsáveis, sejam eles quem forem, hão de ser investigados", disse a eurodeputada.
A subconcessão dos terrenos e infraestruturas dos ENVC à Martifer prolonga-se até 2031 e envolve o pagamento de uma renda anual de 415 mil euros, conforme concurso público internacional que terminou em setembro.
Em paralelo, prevê o encerramento dos ENVC e o despedimento dos mais de 600 trabalhadores. Destes, cerca de 400 deverão ser recrutados pela West Sea, a nova empresa a criar pela Martifer para o efeito.