"Há condições para agravamento das desigualdades"
Entrevista a Carlos Farinha Rodrigues, professor no ISEG.
Portugal continua a ser um dos países mais desiguais da União Europeia. Prevê o agravamento da situação?
Sim. Enquanto se mantiverem estas políticas de austeridade teremos alguma tendência para um agravamento das desigualdades. O estudo demonstra que as desigualdades diminuíram à custa das transferências sociais para os indivíduos mais pobres. E são precisamente as transferências sociais que têm levado os maiores cortes desde 2010. Se juntarmos os cortes dos rendimentos, por via das pensões, salários e desemprego, reúnem-se as condições potenciais para um forte agravamento da desigualdade.
Qual é a atualidade de um estudo que acaba em 2009?
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Há novos dados do INE...
Esses dados demonstram o agravamento. A desigualdade registada em 2009 (pelo indicador sobre a desigualdade de distribuição de rendimentos) era de 33.7, em 2010 foi de 4.2 e em 2011 de 34.5. Todos os indicadores que temos desde o início da assinatura do acordo com a troika é que a desigualdade desde então tem vindo a aumentar.
A organização não governamental Oxfam lançou um alerta à Europa para as consequências da austeridade e citou Portugal como exemplo.
Esse estudo confirma que a experiência de vários países tem demonstrado que estas políticas não só agravam a desigualdade, caso português, como têm um grande potencial de reverter os ganhos de pobreza que tivemos nas última décadas.
Impactos diretos na sociedade ?
O agravamento das desigualdades já é mais do que um problema económico e de justiça e, nas condições atuais de funcionamento da nossa sociedade, arrisca-se a por em causa os poucos laços de coesão social que hoje temos. Estas políticas a manterem-se roem os fundamentos da nossa sociedade e da nossa convivência democráticas.