CDU desafia Costa a responder sobre convergência que afaste a direita do poder
O secretário-geral do PS, António Costa, defende que "o diálogo é sempre possível com todos", mas "há limites".
A CDU desafiou esta quinta-feira o secretário-geral do PS a responder sobre a disponibilidade para uma convergência que afaste a direita do poder, mas António Costa apenas reiterou os limites que tem traçado para o diálogo à esquerda.
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Estas posições foram assumidas num debate entre sete das nove forças políticas que conseguiram representação parlamentar nas últimas legislativas -- os líderes do PSD e Chega faltaram alegando motivos de campanha eleitoral -- transmitido em simultâneo nas rádios Antena 1, Renascença e TSF, a partir das instalações da RTP, em Lisboa.
"As pessoas com o voto na CDU têm a possibilidade de um voto de convergência, de reforçar a convergência", afirmou o líder parlamentar do PCP, perguntando em seguida a António Costa: "O PS recusa a convergência com a CDU, uma convergência que afaste a direita do poder?".
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João Oliveira, que neste debate não excluiu a participação num Governo, que fez depender "em primeiro lugar das políticas", considerou que "o PS quis ir para eleições e agora parece estar a querer confinar-se no pior da sua tradição: ou tem maioria absoluta ou é governação peça a peça e entendimentos com o PSD".
"O diálogo é sempre possível com todos, agora há limites", afirmou António Costa
E insistiu em obter uma resposta do secretário-geral do PS: "Recusa convergência com a CDU para afastar a direita do poder e para encontrar soluções para uma resposta global aos problemas do país, ou não?".
"Respeito muito o João Oliveira, tenho uma grande estima e uma experiência de trabalho excelente com o PCP", começou por responder António Costa, que contestou a ideia de que o PS quis eleições e responsabilizou a "maioria negativa" que chumbou o Orçamento do Estado para 2022 "logo na generalidade, impedindo a continuação do diálogo".
Depois, o secretário-geral do PS sustentou que "a experiência demonstrou que a geringonça funcionou bem quatro anos e depois nestes dois anos não provou", com o BE "fora da solução de governo" desde 2020 e de volta "à sua posição de protesto", e concluiu: "O diálogo é sempre possível com todos, agora há limites".
"Obviamente, mais facilmente à esquerda do que à direita, agora, há limites", reforçou António Costa, apontando como limite nas negociações com o PCP o aumento do salário mínimo nacional reivindicado pelos comunistas, "mais do dobro", e com o BE "a posição de irredutibilidade numa matéria sagrada que é a sustentabilidade da Segurança Social".
Sobre a "governação à Guterres", que tem apontado como alternativa a uma maioria absoluta do PS, António Costa realçou que nesse período os orçamentos "por acaso não foram todos" viabilizados pelo PSD, "houve ali fórmulas bastante diversas", e que o primeiro até foi negociado "negociado entre o engenheiro António Guterres e o então líder do CDS-PP, doutor Manuel Monteiro".
Questionado se isso poderá repetir-se na próxima legislatura, o presidente do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, respondeu que "é é um cenário que está completamente afastado" e que não está disponível para entendimentos com o PS, ao contrário do líder do PSD, Rui Rio.
À esquerda, a coordenadora do BE defendeu que um acordo escrito "é a forma normal de existir maioria e direção para o país" e permitiu entre 2015 e 2019 que as medidas acordadas fossem cumpridas, enquanto depois disso "houve imensas medidas anunciadas que nunca foram concretizadas".
Sobre uma eventual participação num Governo, Catarina Martins afirmou que "quem decide quem terá presença ou não num Governo é quem vota" e "o BE está preparado para todas as responsabilidades".
Rui Tavares, cabeça de lista do Livre pelo círculo eleitoral de Lisboa, concordou que deve haver "um acordo assinado" porque assegura "um Governo escrutinado", e criticou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, por não ter feito essa exigência em 2019, como o seu antecessor Cavaco Silva tinha feito em 2015.
O líder parlamentar do PCP contrapôs que "a questão do papel passado é mais uma questão de encenação do que propriamente de outra natureza" e que não foi fundamental para as medidas aprovadas na anterior legislatura.
Sobre uma eventual participação num Governo do PSD, Francisco Rodrigues dos Santos afirmou que não exige lugares, mas considerou que "exerceria com bastante dignidade" responsabilidades na área da Defesa Nacional, invocando a sua formação militar.
Durante este debate, o presidente da Iniciativa Liberal (IL), João Cotrim de Figueiredo, acusou uma vez mais António Costa de "não ser claro em relação ao voto dos portugueses" e defendeu que os portugueses têm o direito de saber "que tipo de aliança se prepara para fazer" se não tiver maioria absoluta.
Notícia atualizada às 13:56