As revelações de Passos: Portas demitiu-se por sms e não atendia o telefone
Biografia autorizada de Passos Coelho é lançada hoje. O livro é da autoria de uma assessora do PSD que fala de um homem racional, corajoso e desapegado do poder que "levantou Portugal do chão".
Uma biografia autorizada do primeiro-ministro e presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, intitulada Somos o que escolhemos ser, da autoria de uma assessora do grupo parlamentar social-democrata, Sofia Aureliano, vai ser hoje lançada, em Lisboa.
Neste livro, da editora Alêtheia, que vai para as bancas a cerca de cinco meses das eleições legislativas, Passos Coelho é descrito como um homem racional, corajoso e desapegado do poder que "levantou Portugal do chão" na chefia do Governo PSD/CDS-PP. A sua história pessoal e política é narrada com recurso a declarações do próprio e de outras pessoas próximas, destas duas esferas.
O momento mais instável desta legislatura, "a grande crise" do verão de 2013, é enquadrado com "incompatibilidades" crescentes e "antipatia natural" entre os ministros Paulo Portas e Vítor Gaspar e, sobre a demissão deste último, é atribuída ao primeiro-ministro a seguinte frase dirigida ao presidente do CDS-PP: "Ele não vai aceitar ficar e eu, no lugar dele, também não aceitaria".
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O livro revela ainda que, na mesma crise, Paulo Portas anunciou por SMS ao primeiro-ministro que "tinha refletido muito e que se ia demitir", conforme diz o primeiro-ministro no livro. Paulo Portas não atendeu inicialmente as chamadas de Passos Coelho após a mensagem, e quando o primeiro-ministro conseguiu "finalmente" falar com ele terá perguntado se o CDS iria sair do governo. Paulo Portas terá respondido que a decisão era pessoal, relata o Expresso.
O líder parlamentar do PSD Luís Montenegro relembra no livro a forma como Passos Coelho "não teve um minuto para pensar" no dia em que se soube da intenção de Paulo Portas de se demitir. Quando a televisão começou a transmitir, em plena reunião de comissão permanente do PSD, a notícia de que o ministro iria apresentar a demissão, Passos Coelho "apresentou a questão e a forma como a ia colocar ao CDS e transmitir ao país".
O livro conta ainda, de acordo com o jornal Expresso, como Maria Luís Albuquerque, que ia ser empossada nesse dia às cinco, acreditava que teria "o mandato mais curto da história". A ministra das Finanças recorda que "o clima era muito tenso" no dia em que deveria tomar posse, mas decidiu deslocar-se para Belém de qualquer forma.
Com 234 páginas, o livro está dividido em quatro blocos, "Até à idade adulta", "Até à liderança do PSD", "No exercício do poder" e "Que futuro?", e reserva um capítulo para o período entre 1999 e 2004, "Passos de um cidadão imperfeito", dedica outro à mulher de Passos Coelho, intitulado "Laura, o porto seguro", no qual se fala da sua doença oncológica, e também tem um capítulo sobre o lugar onde moram, Massamá.
No plano familiar surge a história de Teresa Rosa, acolhida em criança pelos seus pais, quando estavam em Angola, apresentada como ainda "sem terra", o que Passos Coelho lamenta: "Estamos numa época em que uma pessoa que vive há quarenta anos em Portugal, e que viveu a vida inteira no seio de uma família portuguesa, não consegue naturalizar-se".
Luís Marques Mendes, Jorge Moreira da Silva, Marco António Costa, Pedro Santana Lopes e Luís Montenegro foram figuras sociais-democratas que contribuíram para este livro.
Sem revelar factos novos referentes à ligação de Passos Coelho à empresa Tecnoforma ou às polémicas relacionadas com a sua carreira contributiva, a autora afirma que "os anos de 1999 a 2004 foram alvo de redobradas atenções", porque "foram anos em que este cidadão foi mais imperfeito".
É a respeito da Tecnoforma que aparece um nome ausente do resto desta biografia, o de Miguel Relvas. Sofia Aureliano refuta que Passos Coelho tenha servido de ponte entre aquela empresa e o poder político: "Estava afastado da esfera política e não tinha afinidades com o Governo dessa altura. Exceção para Miguel Relvas, seu amigo pessoal".
A autora propõe-se, sobretudo, traçar um perfil, mostrar "o homem, que o político nos tenta esconder", desde a infância, dando destaque à família, e não descreve as campanhas internas para a liderança do PSD de 2008 e 2010, nem a campanha nacional para as legislativas de 2011 - nas quais Miguel Relvas teve um papel central.
Nos tempos de liderança da Juventude Social Democrata (JSD), Passos Coelho é retratado como duro na relação com o então primeiro-ministro, Aníbal Cavaco Silva, e atual Presidente da República, em dois episódios.
A ameaça de votar contra o Orçamento do Estado por causa das propinas é um deles, apontado como "a primeira vez que Cavaco Silva cedeu numa negociação, sobretudo com características tão especiais".
No outro, ao saber que o primeiro-ministro pretendia faltar a um evento sobre ambiente, o líder da JSD protesta nos seguintes termos: "O senhor desculpe, mas se diz que não vai, eu vou dizer que não vai porque não quer! Porque cancelou à última da hora. Eu não vou inventar outra coisa qualquer". Segundo o relato, Cavaco Silva acabou por ir.
Interrogado agora se alguém o questiona como ele questionou Cavaco Silva, o atual chefe do executivo PSD/CDS-PP "responde que não", mas "gostava que o fizessem".
Nascida nas Caldas da Rainha em 1981 e licenciada em comunicação social, Sofia Aureliano é assessora do grupo parlamentar do PSD desde 2011. Antes, foi jornalista na Rádio Comercial, produtora de televisão e trabalhou em consultoria e relações públicas, e docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP).
Esta biografia vai ser apresentada pelo comissário europeu e ex-secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, esta terça-feira, às 18.30, na Associação Comercial de Lisboa.