Política
04 agosto 2021 às 22h18

Rio e Medina pegam-se. Dois políticos em luta pela sobrevivência

Apostado em fazer o PS perder força em Lisboa, e em sobreviver politicamente às eleições, Rio ataca novamente Medina. Coisas da silly season, respondeu o autarca

João Pedro Henriques

Algumas portas de casas na Ajuda, que ficaram numa posição estranha depois rebaixada a calçada por causa das obras no palácio, motivaram mais um ataque de Rui Rio a Fernando Medina - ataque a que este respondeu com ironia, enquadrando as palavras do líder do PSD na silly season.

O que aconteceu com as portas foi que ficaram "penduradas" a 1,5 metros do chão, perdendo-se assim o acesso à rua. Rio usou o Twitter para dizer que a gestão autárquica da cidade é de "terceiro mundo". Na mesma plataforma, Medina respondeu esclarecendo que as casas são da GNR, ninguém lá vive, e têm portas do lado oposto, viradas para o pátio do quartel onde se encontram. "Pode agora retomar as suas férias e prosseguir com a silly season", ironizou ainda o autarca, recandidato à câmara de Lisboa liderando uma coligação do PS com o Livre.

Já não é a primeira vez que Rio critica Medina - foi aliás por iniciativa do PSD que o presidente da câmara de Lisboa teve de responder no Parlamento sobre o caso dos ativistas russos anti Putin cuja identidade (com nomes, moradas e emails) foi entregue à embaixada da Rússia em Lisboa. O pano de fundo são as eleições autárquicas - e ambos travam agora aquele que é, provavelmente, o combate das suas vidas. Em ambos é a sobrevivência política que está em causa.

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Dentro do PS, Medina há muito que é visto como putativo candidato à liderança do partido quando se colocar o problema da sucessão de António Costa. Da presidência da câmara de Lisboa já saíram dois primeiros-ministros (Santana Lopes e António Costa) e até um Presidente da República (Jorge Sampaio), sendo assim legitimo pensar-se na autarquia como uma rampa de lançamento para voos mais altos.

Contudo, o caso dos ativistas russos denunciados à embaixada pode ter ferido de morte essas alegadas ambições. É uma hipótese. O que garantidamente aconteceria é que esse sonho se tornaria numa impossibilidade prática se Medina perdesse as próximas autárquicas. O desafio é portanto renovar a vitória de 2017, mesmo que, novamente, sem maioria absoluta (o Bloco de Esquerda está disponível para negociar a renovação da aliança pós-eleitoral que firmou com o PS há quatro anos).

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Já Rui Rio, o que poderá estar em causa - como aliás o próprio já admitiu - é a possibilidade de deixar a liderança do PSD se o resultado global do partido nas autárquicas for mau - e mau, para o presidente do PSD, é o partido ter globalmente um resultado pior do que em 2017. "Há um dia, que é uma segunda-feira, que vamos ter os resultados todos das autárquicas e aí eu assumo a responsabilidade por inteiro", afirmou , no final de junho.

Posta assim a fasquia, o desafio até nem parece difícil para o presidente do PSD. Em 2017, o resultado autárquico foi trágico: em 308 câmaras, o PSD conquistou a presidência de 98, (19 em coligação).Quatro anos antes, tinha vencido em 105 municípios (19 em coligação). O meu resultado foi acentuado pelo péssimo desempenho em Lisboa, onde

Já o PS, detém atualmente a presidência de 161 presidências (duas em coligação). Foi o melhor resultado autárquico de sempre na história dos socialistas.

Para o PSD, sendo dificílimo voltar a ser o maior partido autárquico, é no entanto relativamente fácil perspetivar algum crescimento. O problema de Rio é que a oposição interna ressuscitará imediatamente se esse crescimento for mínimo.

joao.p.henriques@dn.pt