Política
28 julho 2021 às 16h48

Rio defende que "não há défice de oposição ao Governo"

Após reunião com o Presidente da República, Rui Rio ​​​​​disse que não foi discutida a necessidade de uma construção alternativa política ao Governo "nem à direita, nem à esquerda". "Isso é uma coisa que acontecerá, se tudo for normal, em 2023", afirmou.

DN/Lusa

O presidente do PSD defendeu esta quarta-feira que "não há défice de oposição ao Governo" e demarcou-se quer do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) do Governo quer do próximo Orçamento do Estado, declarando a "completa independência" dos sociais-democratas.

No final de uma reunião com o Presidente da República, Rui Rio disse que não foi discutida a necessidade de uma construção alternativa política ao Governo "nem à direita, nem à esquerda".

"Falámos sobre o panorama político em geral (...) Isso é uma coisa que acontecerá, se tudo for normal, em 2023", afirmou.

Questionado se viu como uma crítica à sua liderança o pedido do Presidente da República, há cerca de uma semana, aos representantes do setor privado para que lutem por protagonistas políticos mais fortes que lhes deem eco em momentos eleitorais, Rio diz não ter entendido dessa forma.

"Eu não vi, mas tem de perguntar ao Presidente da República. Admito que seja, o que interpreto é que pretenderá o senhor Presidente da República - não é que me tenha dito lá dentro - que as associações patronais sejam mais interventivas na defesa dos seus interesses", afirmou.

Destaquedestaque"Na minha ótica não há défice de oposição ao Governo. Relativamente aos parceiros sociais, poderá o senhor Presidente da República querer mais competitividade"

Em relação aos partidos políticos, defendeu, por vezes até podem ser considerados "acutilantes demais, quando estão a dizer mal de tudo permanentemente".

"Na minha ótica não há défice de oposição ao Governo. Relativamente aos parceiros sociais, poderá o senhor Presidente da República querer mais competitividade", afirmou, dizendo não ter ouvido na reunião de cerca de uma hora "análise nenhuma" que o pudesse ter melindrado por parte de Marcelo Rebelo de Sousa.

Destaquedestaque"O Governo nunca nos ouviu, inclusive cheguei a ouvir o primeiro-ministro a dizer que o PSD não tinha ideias. Dá-me ideia que não as leu ou não lhes ligou nenhuma"

Questionado sobre o convite que lhe foi dirigido pelo líder do Chega para uma plataforma de convergência, Rio disse não ter recebido qualquer carta e recusou-se a fazer qualquer "comentário público" sobre este partido e o seu líder, André Ventura.

Na reunião, Rio apontou como principal tema discutido o PRR, reiterando as críticas à prioridade dada ao setor público sobre as empresas, e recordando que o PSD apresentou "por três vezes" propostas alternativas.

Leia também: Marcelo sugere aos privados que lutem por políticos mais fortes

"O Governo nunca nos ouviu, inclusive cheguei a ouvir o primeiro-ministro a dizer que o PSD não tinha ideias. Dá-me ideia que não as leu ou não lhes ligou nenhuma. O primeiro-ministro e o Governo estão por conta e risco de um PRR que quiseram desenhar sozinhos", criticou, apontando que apenas 25% das verbas deste plano é destinada às empresas.

Questionado sobre o próximo Orçamento do Estado, o líder do PSD disse não ter sido tema debatido com o Presidente da República, mas fez questão de salientar "a posição de completa independência" do partido nesta matéria.

"Podiam as circunstâncias ser outras, porque podíamos ter de jogar entre a nossa convicção e o equilíbrio do país. Mas, há um ano, o primeiro-ministro foi claríssimo quando disse que, se para um Orçamento ser aprovado precisasse do PSD, ele se demitia", referiu, considerando que "tanto faz" a votação dos sociais-democratas e que o documento terá de ser negociado à esquerda.

O líder do PSD deixou um alerta quanto à exigência de BE e PCP de revisão da legislação laboral, considerando que pode comprometer ainda mais a competitividade do país.

Por isso, defendeu, a aposta devia ser no setor privado para que se crie "melhor emprego e mais bem remunerado", apesar de "não ter efeitos imediatos do ponto de vista eleitoral", ao contrário de "aparecer uma ponte, uma estrada ou um hospital".

O Presidente da República termina esta quarta-feira a audição de todos os partidos com assento parlamentar, que iniciou na segunda-feira.

O presidente do PSD recusou hoje que a resolução do BES feita pelo Governo de Passos Coelho tenha sido uma "fraude política", como refere o relatório da comissão de inquérito ao Novo Banco aprovado pelo partido, embora admitindo "problemas".

Aos jornalistas, Rui Rio salientou que o PSD "votou contra essa conclusão" em particular e na votação final global do relatório votou a favor, mas fez uma declaração de voto sobre esse ponto.

"O PSD não nega que tenha havido problemas e haja problemas com a resolução do BES, mas é o próprio relatório que diz que a resolução do BES é o menos mal dos males", defendeu.

Para Rio, "não há fraude política nenhuma, há uma resolução que teve problemas num problema complexo como aquele".

O líder do PSD justificou o voto final global favorável do partido porque, tirando este aspeto, "o relatório está bem feito e evidencia as responsabilidades" quer do Governo, quer do Novo Banco, quer do Banco de Portugal.

"Se o PSD votasse contra, porque tem um pormenor com que não concorda, não havia relatório nenhum e nunca havia relatório de comissão de inquérito nenhuma", justificou.

Rio salientou que o PS votou contra o relatório porque "este é particularmente grave na responsabilização do Governo socialista" e cumprimentou todos os deputados da comissão de inquérito, considerando que "dignificaram a função".

Na terça-feira, o relatório final da comissão de inquérito ao Novo Banco foi aprovado pelos deputados apenas com o voto contra do PS e a abstenção do CDS-PP.

O relatório final da Comissão Eventual de Inquérito Parlamentar às perdas registadas pelo Novo Banco e imputadas ao Fundo de Resolução foi aprovado com os votos a favor dos deputados do PSD, BE, PCP, PAN e IL, a abstenção do CDS-PP e o voto contra do PS.

A votação final seguiu-se à renúncia, por parte, do deputado do PS Fernando Anastácio à função de relator por não se rever no documento final, resultado da votação de várias dezenas de propostas de alteração apresentadas pelos partidos.

Por proposta do PCP, tinha sido aprovada na segunda-feira uma alteração ao relatório referindo que a resolução do BES e a sua capitalização inicial, de 4.900 milhões de euros, foi "uma fraude política".

"Uma decisão que representou uma fraude política, uma vez que foi dito aos portugueses que seria possível resolver o banco com 4,9 mil milhões de euros, sabendo-se que o passivo da 'holding' era superior a 12 mil milhões de euros", pode ler-se na proposta de alteração do PCP ao relatório, aprovada com votos favoráveis de PS, BE e PCP, e votos contra do PSD, CDS, PAN e IL.

De acordo com o texto dos comunistas, a decisão da medida de resolução ao BES e de criar o Novo Banco, em 3 de agosto de 2014, "foi uma decisão que, pelas suas implicações, também responsabiliza o Governo", à data liderado por Pedro Passos Coelho (PSD/CDS-PP).