Política
16 janeiro 2022 às 09h00

PS afasta-se do PSD e Chega ultrapassa BE 

Rui Rio perde fôlego e António Costa alarga vantagem ​​​​​​​para dez pontos percentuais a duas semanas das eleições.

A duas semanas das eleições, Rui Rio parece ter perdido o fôlego. O PS recupera da queda de dezembro (sobe para os 38,1%), enquanto o PSD faz o caminho inverso (cai para 28,5%). Os dois maiores partidos estão agora separados por uma dezena pontos, de acordo com a sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF. Mas há outro sinal preocupante para as aspirações do social-democrata: são agora 58% os que estão convencidos de uma vitória socialista. A terceira grande novidade do inquérito aponta para o Chega (9%): ultrapassa o BE (7,4%) e fica com o terceiro lugar. Seguem-se CDU (4,8%), IL (3,7%), PAN (2,1%) e CDS (1,8%).

O trabalho de campo decorreu entre 6 e 12 de janeiro, ainda antes do debate decisivo entre António Costa e Rui Rio, e em que a generalidade dos analistas deu uma vitória estreita ao social-democrata. Se foi assim, ou se essa prestação terá algum efeito no apoio ao PSD, a próxima sondagem (a divulgar a 27 de janeiro) dirá. Sendo certo que o cenário é suficientemente aberto. Como divulgámos na edição de sábado, quando se avalia o potencial de voto (soma dos que votariam de certeza num determinado candidato e dos que poderiam votar), Costa leva vantagem, mas o mercado eleitoral de Rio é mais do que suficiente para vencer a 30 de janeiro.

Dizem às vezes os analistas políticos que um mês pode ser uma eternidade em política. Prova disso é a forma como evoluiu a relação de forças entre PS e PSD dos últimos dois meses. Em novembro, com os sociais-democratas dilacerados por uma luta interna, os socialistas conseguiram uma vantagem de 14 pontos.

Um mês depois, com Rui Rio catapultado por uma vitória interna que tantos consideraram impossível, a diferença para António Costa passou a ser de dois pontos. Mas o altifalante do carrossel promete sempre mais uma viagem: e o social-democrata perdeu o embalo (talvez porque a primeira leva de debates não lhe tenha corrido bem) e a distância volta a subir, agora para dez pontos.

O tempo escasseia. E isso também é válido quando se olha para os tradicionais blocos à Esquerda e à Direita. O PS, que continua ancorado nos eleitores mais velhos (marca 48,7% entre os que têm 65 ou mais anos), volta a ultrapassar o conjunto da Direita democrática (da qual, seguindo os critérios dos próprios, se exclui o Chega), com uma vantagem de quatro pontos.

Por outro lado, se a falecida geringonça continua a valer mais 7,3 pontos percentuais do que a soma da Direita (incluindo o Chega), a relação de forças já não é a mesma de 2019. Seja por causa do chumbo do Orçamento e da falta de confiança de Costa nos antigos parceiros, seja porque o eleitorado à Esquerda exige mais luta e menos negociação, o PS está a corroer a base do BE e do PCP: perdem em conjunto, nesta altura, 3,7 pontos percentuais relativamente às últimas legislativas.

As alterações do sentido de voto nunca são assim tão lineares, mas os números sugerem pelo menos alguma coincidência entre a dimensão da queda do PSD e os ganhos somados de PS e Chega. E é nestas três forças políticas que residem as principais mudanças dos inquéritos de opinião da Aximage entre dezembro e janeiro.

Os populistas de Direita regressam ao terceiro lugar, aparentemente impulsionados pela presença de André Ventura nos debates televisivos. A postura agressiva e as frases de efeito terão produzido resultados. Desde o rescaldo das eleições presidenciais, que também garantiram palco mediático ao líder no início do ano passado, que o Chega não revelava este fôlego nos barómetros.

É, aliás, a força política em que se adivinham maiores ganhos nas próximas eleições: está oito pontos acima do que conseguiu em 2019. É improvável que André Ventura continue sem companhia no Parlamento.

A subida do Chega atropela vários adversários: desde logo o Bloco de Esquerda, que estagnou um pouco acima dos sete pontos percentuais, e desce para o quarto lugar (só ficaria à frente dos radicais de Direita na Área Metropolitana do Porto); a CDU, que se mantém próximo da casa dos cinco pontos (ora umas décimas acima, ora umas décimas abaixo); o PAN, que continua um caminho de desgaste lento e se aproxima perigosamente do patamar do deputado único; e sobretudo o CDS que, não obstante uma certa vivacidade, está reduzido a menos de dois pontos (com metade do seu eleitorado de 2019 a fugir para o Chega).Entre os partidos mais pequenos, o único que, tal como o Chega, ameaça progredir para outro patamar, é o Iniciativa Liberal. Sendo certo que não saiu do lugar durante estas primeiras semanas de campanha, ainda é um dos partidos que poderão ter um maior crescimento, relativamente às últimas legislativas: com um resultado a rondar os quatro pontos, pode pelo menos aspirar a eleger um grupo parlamentar nos dois maiores círculos eleitorais (Lisboa e Porto).

Maioria absoluta

Um Governo de maioria absoluta continua a ser a solução política mais popular entre os portugueses (25%). Mesmo que dois terços (67%) não acreditem que isso venha a acontecer nas eleições de 30 de Janeiro. No caso dos eleitores do PS e do PSD, a percentagem que pede este tipo de estabilidade governativa é superior à média: 37% no caso dos socialistas, 35% no caso dos sociais-democratas. Mas há outros segmentos da amostra em que esta é também a solução apontada mais vezes. Se o foco for a geografia, ganha entre os habitantes da região Norte (31%), da Área Metropolitana do Porto (28%) e da região Centro (22%). Se a análise incidir nas faixas etárias, é a hipótese mais popular entre quem tem 18 a 34 anos (27%) e 35 a 49 anos (25%).

Coligação de Esquerda

Com apenas um ponto percentual a menos surge a segunda hipótese preferida dos inquiridos, um Governo que resulte de uma coligação à Esquerda (24%). Sem surpresa, é a mais apontada pelos eleitores da CDU (78%) e do BE (74%), mas também pelos que escolhem o PAN (43%), que afinal parecem pender mais para a Esquerda do que para a Direita. Também entre os socialistas é uma escolha popular (34%). Finalmente, ao nível regional é a mais citada pelos que habitam na Área Metropolitana de Lisboa (27%) e nas regiões a Sul (25%). Finalmente, em termos de faixas etárias, tem o apoio da maior percentagem de eleitores com 65 ou mais anos (28%) e dos que têm 50 a 64 anos (27%).

Coligação de Direita

Alguns pontos mais abaixo surge a terceira possibilidade de tentar garantir uma maioria parlamentar, uma coligação à Direita (19%). Neste caso, é só entre dois segmentos partidários que aparece como a solução preferida: entre os que votam no Chega (64%) e na Iniciativa Liberal (58%). Também sem surpresa é a segunda hipótese mais referida pelos eleitores sociais-democratas (34%).

Bloco Central

A hipótese de socialistas e sociais-democratas juntarem forças no Parlamento, se nenhum deles vencer com maioria absoluta (uma hipótese bastante remota), assegurando assim a governabilidade, só convence 9% dos portugueses. Há, no entanto, segmentos da amostra em que se nota uma preferência um pouco acima da média por esta solução: entre os que votam no PSD (14%) e nos portugueses de 65 ou mais anos (17%).

Alianças pontuais

Foi uma das soluções apontadas por António Costa no debate com Rui Rio: um Governo "à Guterres", com negociação diploma a diploma. E foi na verdade a solução que já vigorou nos dois últimos anos. A adesão dos portugueses, no entanto, é escassa: apenas 9% apontam para essa via (embora seja importante relembrar que o trabalho de campo da sondagem decorreu antes do líder socialista dar conta dessa possibilidade). O único segmento em que se regista uma adesão um pouco acima da média é entre os que vivem na região Sul do país.

Os portugueses não se entusiasmam com a ideia de um Bloco Central. Mas, em caso de vitória do PS ou do PSD, sem maioria absoluta, é afinal para um entendimento entre os dois maiores partidos que aponta a maioria.

Vitória socialista

Se for o PS a vencer, 35% dos portugueses sugerem que António Costa dê prioridade ao PSD para uma coligação pós-eleitoral. Mas também é assim que responde a maior fatia dos que votam nos socialistas, ainda que com números mais modestos (30%). O segundo na linha de negociação é o BE, com 22%. Só se somarmos as percentagens dos que escolheram como parceiro preferencial o BE, PCP ou PAN é que o resultado (40%) supera a hipótese de um entendimento ao Centro.

Vitória social-democrata

Se for o PSD a vencer, 37% dos portugueses sugerem que Rui Rio dê prioridade ao PS, para assegurar a estabilidade do seu Governo. No caso dos que votam nos sociais-democratas, o entusiasmo por esse entendimento ao centro é ainda maior (39%). O segundo sócio mais citado é o CDS (17%) - tem o apoio de 35% dos eleitores do PSD -, seguido do entendimento com o Chega (11%) ou com a Iniciativa Liberal (9%). Somados estes três, ficariam empatados (37%) com a "coligação" entre PSD e PS.

rafael@jn.pt

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com a atualidade política.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 6 e 12 de janeiro de 2022 e foram recolhidas 807 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através de uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade. Para uma amostra probabilística com 807 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,45%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem, Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.