Política
28 maio 2023 às 11h12

Mariana Mortágua assume "compromisso pela vida boa" dos portugueses

Mariana Mortágua já foi eleita oficialmente coordenadora do Bloco de Esquerda, sucedendo no cargo a Catarina Martins.

DN/Lusa

Mariana Mortágua foi este domingo consagrada a nova coordenadora do BE e a lista de continuidade que apresenta à Mesa Nacional conseguiu 67 dos 80 lugares na Mesa Nacional do BE, vencendo a moção de Pedro Soares e reforçando a direção neste órgão.

Segundo os resultados anunciados, a lista de Mariana Mortágua conseguiu 67 mandatos enquanto a de Pedro Soares ficou com 13.

Na última convenção, quando Catarina Martins foi reconduzida pela última vez coordenadora do partido, a lista da moção da direção conseguiu 54 dos 80 lugares da Mesa Nacional do BE, uma perda de 16 mandatos em relação a 2018, enquanto a moção E elegeu 17 lugares.

Nessa convenção eram quatro as listas que estavam a votos e os restantes lugares da Mesa Nacional foram distribuídos da seguinte forma: a moção C com quatro lugares e a N com cinco.

No seu primeiro discurso como coordenadora do BE, Mariana Mortágua garantiu que o partido vai "lutar" para "responder aos problemas da vida dos portugueses, entre os quais o acesso à saúde e educação e melhores salários.

"Assistimos à degradação da vida pública e é precisamente quando a vida pública se degrada que é mais preciso mostrar que, no Bloco de Esquerda, a política é e sempre será o lugar das causas e das convicções. Não deixamos a política entregue ao calculismo nem a esse pântano em que verdade e mentira se confundem. A nossa política é uma paixão maior do que qualquer circunstância, é uma forma de impaciência, é uma vontade indomável. E por isso vos garanto: os nossos 24 anos, estas treze Convenções e esta sala cheia são só o começo do Bloco de Esquerda", afirma.

E deixou ainda um recado aos "adversários". "Aos nossos adversários, para quem a Esquerda é sempre um projeto condenado, deixo um recado franco: já nos conhecem, mas ainda não viram nada da força que sabemos criar, reinventar e unir."

A nova líder do BE lembra também a guerra na Ucrânia, dirigindo-se ao Movimento Social da Ucrânia, partido que "resiste com o seu povo contra uma invasão que se anunciou pela reconstituição do império czarista; saibam que apoiamos a vossa luta para defender o vosso país".

Num plano mais pessoa, Mariana Mortágua quis agradecer à irmã Joana, também ela deputada do BE. "Foi a Joana que me convenceu que no Bloco encontraria gente como eu, que acha que a vida vale a pena quando lutamos por aquilo em que acreditamos. Herdámos do nosso pai uma memória de resistência contra a ditadura".

Seguiram-se elogios a Catarina Martins, a quem este domingo sucede na liderança dos bloquistas, recordando a "força imparável" da sua antecessora, que "desde o primeiro dia dos seus mandatos provou ser a melhor de todas nós".

"Fizemos o que muitos achavam inviável: revertemos cortes salariais e de pensões impostos pela direita, baixamos o valor das propinas e dos passes sociais, tributámos os patrimónios milionários para proteger a segurança social, não cedemos na luta pelo SNS", declarou Mortágua, recordando ainda a luta pela despenalização da eutanásia. "Foram anos incríveis de coragem e de convicção e podes ter a certeza que contamos contigo para os próximos", disse, dirigindo-se a Catarina Martins.

"Se escolheram contar comigo, mesmo sabendo que teremos de lidar com as perseguições da extrema-direita e e de um magnata da comunicação social, então vamos a isso. Que essa gente sem escrúpulos saiba que este partido não se cala perante o abuso e não se encolhe perante a intimidação", garante a nova líder.

E os recados para a direita continuaram, com Mariana Mortágua dizer que "há na direita uma ânsia de vingança contra os trabalhadores, de desprezo pelos pobres, de regressão nos direitos conquistados. A direita, que bebe do ressentimento e da angústia de problemas reais, é a primeira a querer impor medidas contra o povo, a apoiar a especulação imobiliária, os interesses da banca e a venda ao desbarato dos recursos do nosso país".

Seguiram-se recados ao governo. "Os salários e as pensões ficam mais pequenos mas o Governo pede-vos que agradeçam o excedente orçamental. Os serviços públicos definham mas por favor deem as vossas salvas ao PRR. Morar em Lisboa é mais caro que em Madrid ou Milão, mas aplaudam o crescimento económico. A vida democrática é conspurcada quando um governante português sorri e acena ao lado do chanceler alemão enquanto este faz piadas sobre o momento em que a Lufthansa podia ter ficado com a TAP".

No que diz respeito a objetivos, Mariana Mortágua centrou-se nos dois próximos atos eleitorais - as regionais da Madeira deste ano e as europeias de 2024. "O primeiro objetivo é erguer na Madeira a oposição que Miguel Albuquerque teme, a que não se cala perante a teia de interesses económicos que envolve o PSD e o PS Madeira", disse a líder do BE, garantido que passará a haver "uma oposição que leva a sério vida dos madeirenses, a pobreza, a habitação, a saúde" e que "se vai empenhar em fazer desse novo ciclo político o fim da maioria alaranjada."

O segundo objetivo são então as europeias do próximo ano, ato eleitoral ao qual, diz Mortágua, o partido abordará "com o entusiasmo e a determinação de sermos a terceira força para ultrapassar o Chega e a Iniciativa Liberal".

Para o final ficou a abordagem ao programa do Bloco de Esquerda, dizendo que o partido que lidera é diferente "dos vendedores de banha da cobra" e que não aceita "que viver pior seja o nosso destino."

E assumiu um "compromisso pela vida boa", que passa por ter "uma casa, salário decente, ter cuidados na doença, quando tivermos filhos, quando a idade pesar aos nossos pais, quando a idade nos pesar a nós. É essa solidariedade que faz a esquerda e é esse o programa pela vida boa, pela liberdade, pelo respeito. Vida boa é ter a esperança e fazer por ela".

"Estaremos em todo o lado onde é preciso que se sinta que a solidariedade é a única resposta à ganância e à desesperança", acrescentou.

"Há quem lhe dê mau nome, mas insistimos em chamar a este nosso projeto socialismo, porque é liberdade e democracia. Chamem-lhe ecologia, responsabilidade, igualdade, amizade, paixão", rematou a líder do BE.

A nova Comissão Política do BE, coordenada por Mariana Mortágua, mantém, entre outros nomes, a ex-líder Catarina Martins, órgão no qual entra José Gusmão e Pedro Soares e saí Mário Tomé, que não foi eleito para a Mesa Nacional.

Segundo informação adiantada à Lusa por fonte oficial do partido, logo a seguir ao encerramento da XIII Convenção Nacional do BE, a nova Mesa Nacional eleita reuniu-se pela primeira vez e elegeu a Comissão Política bloquista, órgão que assegura a direção quotidiana do partido.

De acordo com a moção vencedora, "a coordenação da Comissão Política ficará a cargo de quem encabece a lista mais votada para a Mesa Nacional do Bloco de Esquerda", ou seja, Mariana Mortágua.

Mantém-se Catarina Martins, como noticiado pela Lusa, e entram Pedro Soares, rosto da oposição interna e o eurodeputado José Gusmão, o ex-deputado Moisés Ferreira e o historiador Miguel Cardina, pela lista vencedora.

De saída, entre outros nomes, está o histórico da UDP Mário Tomé que, estando em 18.º lugar da lista da moção E, não foi eleito, uma vez que esta só conseguiu 13 lugares.

Para esta nova constituição do órgão foram indicados quatro nomes pela moção da oposição interna e 17 pela vencedora.

"A Comissão Política, órgão que assegura a direção quotidiana do Movimento, nomeadamente a ligação com os seus grupos parlamentares nacional e europeu e a aplicação das deliberações da MN sobre a orientação política das e dos eleitos, elege um Secretariado Nacional para tarefas de coordenação executiva", pode ler-se nos estatutos do partido.