Política
02 julho 2022 às 21h21

Marcelo vs. Bolsonaro: "O encontro em setembro será inevitável"

Para Marcelo Rebelo de Sousa "não há problema nenhum" nem é uma desconsideração mas "uma opção" caso Bolsonaro venha a desconvidar o presidente para o almoço que deveria realizar-se amanhã, no âmbito da visita oficial do Presidente português ao Brasil.

Rosália Amorim, no Rio de Janeiro

Uma viagem aérea sem agitação e sem escalas aconteceu na madrugada de sábado entre Lisboa e Rio de Janeiro, ao contrário do que sucedeu há cem anos na travessia do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, feito histórico que agora assinala o centenário. A bordo agora, a única turbulência surgia ainda de resquícios da crise política e do despacho, entretanto revogado, relativo ao novo aeroporto de Lisboa. O assunto dominou as conversas entre a comitiva presidencial e os jornalistas, mas nada que tenha tirado o sono ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ou ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva.

Marcelo Rebelo de Sousa chegou neste sábado antes de o sol nascer ao Rio de Janeiro e, com o ministro da Cultura, deu um mergulho na praia de Copacabana. Aproveitou a manhã para um banho de 15 minutos no mar. "Aqui há ondas, em Brasília não há ondas", brincou a propósito da hipótese de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, desconvidar o presidente de Portugal para um almoço que estava previsto para esta segunda-feira.

Citaçãocitacao"Aqui há ondas, em Brasília não há ondas", brincou Marcelo Rebelo de Sousa a propósito da hipótese de Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, desconvidar o Presidente de Portugal para um almoço que estava previsto nesta segunda-feira.

No areal, conversou com a comunidade brasileira e carregou baterias para o evento oficial do centenário da Travessia do Atlântico Sul, na orla costeira da cidade, mais propriamente no primeiro distrito naval, e depois no Palácio de São Clemente, que acolhe o consulado de Portugal.

Marcelo Rebelo de Sousa cantou o hino nacional e também o do Brasil, invocou os heróis Gago Coutinho e Sacadura Cabral, "um teórico e um prático", mas "tão iguais na epopeia de Portugal e do Brasil, aliás mais do que epopeia foi uma odisseia", afirmou. À época, "foi uma vitória da ciência" e de "uma tecnologia inédita até então", recordou. "Era a vitória da vontade, da força de dois servidores das forças armadas portuguesas." Recordou que "a imprensa desses dias escreveu que "a expedição foi um beijo que atravessa um oceano. Hoje diríamos talvez um abraço que não atravessa, mas que está presente nos dois lados do oceano", aproveitando para realçar "a unidade entre dois povos".

Cem anos depois da Travessia do Atlântico Sul "celebramos a epopeia, mas também os 200 anos de independência dessa grande potência chamada Brasil", afirmou Marcelo Rebelo de Sousa para quem "a ousadia, a solidariedade e visão são o que ainda hoje constrói um futuro melhor".

Já no consulado português no Rio de Janeiro, Marcelo realçou o papel da "pátria irmã" e afirmou "que esse papel de irmã será também enaltecido quando, em setembro, for orador convidado no Congresso Nacional brasileiro", a propósito da cerimónia dos 200 anos da Independência. E se ao dia de hoje ainda não é seguro que Bolsonaro desconvide Marcelo para um almoço que estava previsto para amanhã, Marcelo atira: "O encontro em setembro será inevitável."

Como afirmou o Presidente de Portugal, "ninguém morre se não houver almoço" e "respeito se quem convida deixa de convidar". No Brasil, porém, a atitude de Bolsonaro, a confirmar-se entre hoje e amanhã, está a levantar uma onda de críticas - até porque Marcelo é uma figura popular em terras de Vera Cruz. O desconforto de Bolsonaro assenta no encontro que Marcelo terá antes com Lula da Silva, que vai à frente nas sondagens para a corrida às presidenciais.

O Presidente afirmou aos jornalistas dos dois países que "as eleições brasileiras não farão parte da agenda", "esse é um tema interno do Brasil" e "não é função do Presidente da República de Portugal falar da vida eleitoral brasileira". Mas aqui pelo ​​​​​​​Rio de Janeiro, já se contam espingardas para as eleições de 2 de outubro.

A jornalista viajou a convite da TAP.