Tem havido um crescimento da valorização da autenticidade. Temos, por exemplo, os casos de Donald Trump ou Bolsonaro, são pessoas vistas como brutalmente autênticas. No entanto, mentem, mentem desalmadamente. Há um problema de contradição entre a autenticidade e a verdade, quando antigamente as coisas batiam certo e agora não batem. A valorização da atitude não valoriza o que pode ser falso em vez do conteúdo, que é substantivo? Valoriza-se o embrulho e não se valoriza o que está dentro do embrulho?
Se isto acontece é uma situação realmente triste. Ou seja, se começamos a valorizar apenas o embrulho sem o conteúdo, então isto fica mesmo triste. Agora, outra questão é que, às vezes, uma pessoa pode ter um bom embrulho, mas continua a mentir. Acho que são duas coisas que, na verdade, não podemos colocar tão juntas. Não podemos dizer que se tem um bom embrulho é porque é provável que esteja a mentir, nem o contrário. Defendo que devemos ter a mensagem verbal e não verbal a condizer, mas, por exemplo, o facto de Trump ter ganho as eleições na altura [2016], também não foi muito estranho e lembro-me de fazer análise desses debates. O que aconteceu foi que Trump não ganhou por ter ficado bom ou porque as pessoas descobriram uma outra pessoa durante a campanha, mas a Hillary Clinton é que deixou de parecer autêntica. Ela defendia o Strong Together, dizia que não era como Donald Trump, que era diferente. Só que durante os debates, o que vimos foi que ela conseguiu passar essa mensagem durante o primeiro debate, mas no segundo já nem por isso. Continuava a ter um bom discurso, mas no comportamento parecia, de vez em quando, parecida com Donald Trump. No terceiro debate já não estava muito melhor que ele e, na altura, a minha teoria era que as pessoas votaram em Trump, não porque começaram a adorá-lo mas porque começaram a desconfiar da autenticidade de Hillary Clinton.