Política
12 maio 2021 às 20h04

Costa segura Cabrita mas põe em xeque chefe da PSP

Enganou-se quem pensava que o PM deixaria cair o seu ministro da Administração Interna. Não só não o fez como reforçou. Mas, por determinação do Governo, a atuação da PSP nos festejos do Sporting será investigada

João Pedro Henriques

Eduardo Cabrita, ministro da Administração Interna, saiu esta quarta-feira mais seguro do seu cargo depois do debate com o primeiro-ministro (PM) no Parlamento. Sentado - e sempre em silêncio - na bancada governamental, Cabrita ouviu António Costa tratá-lo como um "excelente ministro" (quando interpelado por André Ventura sobre se o mantinha em funções ou não).

"Quem me dera que o meu problema fosse o ministro da Administração Interna. Significa que não tenho um problema porque tenho um excelente ministro da Administração Interna", afirmou o chefe do Governo, segurando assim Cabrita, de forma que dificilmente poderia ser mais categórica. E fazendo-o mesmo depois de o Presidente da República ter insinuado a necessidade de responsabilização já que "quem deve prevenir não conseguiu prevenir e quem ali devia prevenir são naturalmente as entidades responsáveis por isso e são todos os cidadãos".

Leia também: Festejos do Sporting."Quem deve prevenir não conseguiu prevenir", critica Marcelo

Houve, porém, quem - na visão do PM - não ficasse tão bem na fotografia. Por causa do descontrolo sanitário absoluto das comemorações em Lisboa da conquista do campeonato de futebol pelo Sporting, o Governo - anunciou Costa - pediu à IGAI (Inspeção Geral da Administração Interna) que analisasse a conduta da PSP.

Ao mesmo tempo - disse também o primeiro-ministro - a direção nacional da PSP foi interpelada pelo ministro da Administração Interna para esclarecer que planeamento tinha feito preventivamente com a câmara de Lisboa e com a DGS sobre o controlo dos festejos.

Objetivamente, a posição do diretor nacional da PSP, Magina da Silva, ficou fragilizada. Mas não foi a única figura pública com quem isso ontem aconteceu. O chefe do Governo não hesitou em censurar publicamente o seu secretário de Estado da Energia, João Galamba, por este ter escrito no Twitter - numa nota que depois apagou - que o programa da RTP Sexta às 9 não passava de um "esterco".

Como de resto o ministro do Ambiente já tinha feito anteontem, António Costa concordou com quem considerou a atitude de Galamba "obviamente inapropriada". E depois produziu teoria geral sobre o que deve ser o comportamento dos governantes face às críticas de que são alvo: "Eu, de facto, não posso dizer outra coisa: os membros do Governo têm de ter particulares nervos de aço para ouvirem mesmo as coisas mais desagradáveis. É o que eu faço, roo um bocadinho mais as unhas, mas pronto, é a vida..."

Cabrita, Odemira e os festejos do Sporting foram três importantes temas do debate - mas não só. Como sempre acontece nestes debates, o chefe do Governo foi atacado - à esquerda e à direita - por causa do Novo Banco.

Esse foi, por exemplo, o ponto focal da primeira intervenção de Rui Rio. O presidente do PSD argumentou com Costa que o Governo está a emprestar dinheiro ao Fundo de Resolução, para este por sua vez acudir a necessidades do banco, sem o cuidado de "verificar as faturas" com que o banco justifica a necessidade de auxílio.

Segundo garantiu, na verdade a disponibilidade contingencial do Estado para auxiliar o Novo Banco não está limitada a 3,9 mil milhões de euros - mas sim a 5,9 mil milhões. Aproveitou então para anunciar que o PSD apresentará no Ministério Público uma nova exposição, "mais detalhada", sobre uma suposta gestão danosa que a Lone Star estará a fazer dos ativos do Novo Banco.

Já com Catarina Martins, o ponto de discussão com o PM foi outro. A líder do BE continua a insistir na ideia de que os financiamentos do Estado ao Novo Banco oneram os contribuintes; Costa, pelo seu lado, desmente o mais que pode, assegurando que esses financiamentos são empréstimos que um dia serão pagos (até 2046).

Mais uma vez, Catarina Martins desafiou Costa a aceitar que os financiamentos tenham visto prévio da AR. E mais uma vez Costa disse que não.

joao.p.henriques@dn.pt