Política
28 novembro 2021 às 23h30

Como se explica a vitória de Rui Rio? "Venceu a lógica do poder"

Com a experiência de ter sido o primeiro líder do PSD eleito em diretas - e até agora o único que foi derrotado - Luís Marques Mendes explica a vitória de Rui Rio com a proximidade das eleições legistativas. Os militantes viram-no como o melhor para enfrentar Costa.

João Pedro Henriques

Pouco mais de 1700 votos, num total de 36,3 mil. A menor diferença de sempre, desde que há eleições diretas no PSD (as primeiras foram em 2006, sendo Luís Marques Mendes o presidente eleito). E, sendo assim, evidentemente, a vitória menos folgada de Rui Rio, a sua terceira desde 2018 (a primeira foi contra Pedro Santana Lopes, por 3484 votos de diferença, e a segunda, em 2020, contra Luís Montenegro, por 2071).

Contrariando o favoritismo estabelecido nos media a favor de Paulo Rangel, Rui Rio foi no sábado reeleito presidente do PSD. Reconquistou com isso o élan para as eleições legislativas que tinha obtido com o resultado das autárquicas e que se tinha perdido, entretanto, com o processo eleitoral interno no PSD. O PSD profundo pareceu com esta eleição ter determinado que o presidente do partido é quem está melhor colocado para vencer António Costa nas eleições legislativas. Fez caminho a ideia de que Rio reuniria melhores condições do que Paulo Rangel para enfrentar o líder do PS.

Provavelmente, outro galo cantaria nestas diretas se não estivessem marcadas já para daqui a dois meses eleições legislativas. Fosse o caso de escolher um líder da oposição apenas - com as legislativas marcadas apenas para daqui a dois anos, como seriam se a legislatura não tivesse sido interrompida - e Paulo Rangel poderia ter tido outra sorte.

Esta tese foi ontem defendida por Marques Mendes, na SIC. Com a experiência de décadas de militância no PSD - e tendo sido, de resto, o primeiro líder do partido a ser eleito por este sistema eleitoral das diretas -, Mendes afirma que "venceu a lógica do poder". "O PSD é um partido pragmático e de poder. Tem um enorme instinto de poder. Vota naquele que em cada momento considera que lhe dá mais garantias de chegar ao poder." Ora, "os dados favoreciam claramente Rui Rio".

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Dado 1: "Certas ou erradas, as sondagens diziam que Rio era o preferido dos portugueses como candidato a primeiro-ministro", isto é, era quem estava "melhor posicionado para vencer António Costa". E "as sondagens, nestes momentos, têm muita força" porque "os militantes tendem a seguir o sinal que vem dos portugueses".

Dado 2: a "eficácia política". "Rui Rio foi mais eficaz que Rangel" e "conseguiu colocar esta eleição no ponto que mais lhe convinha" porque se "tratava de escolher o melhor candidato a primeiro-ministro e não o melhor líder da oposição".E "teve uma mensagem clara", começando pela "questão da governabilidade: se ganhar, governa; se perder viabiliza quem governa".

Enfim, para Marques Mendes, "se não houvesse eleições legislativas à porta, provavelmente Rangel ganharia" porque "é mais visto como líder da oposição". "Só que o tempo era outro, as eleições antecipadas favoreceram Rui Rio".

Citaçãocitacao"Era importante que houvesse tempo para aquilo que agora foi terminado, este período antes do pré-eleitoral. Está terminado. Portanto, avança-se serenamente para, mais tarde, o período eleitoral."

Dado 3: "O aparelho partidário". Rui Rio "bipolarizou o discurso com habilidade" dizendo que "Rangel representava o aparelho" e ele, Rio, "representava o país". Ou seja, "colou Rangel à lógica do aparelho" e isso "não é popular, nem nas bases do partido nem no país - ser do aparelho tem uma carga política negativa". Para Mendes, Rio consegue agora partir para as legislativas "com um estatuto muito reforçado" - "agora, mesmo que perca em Janeiro, ninguém vai exigir a sua saída". "Esta vitória não lhe dá só legitimidade, dá-lhe força, confiança e autoridade" e alimenta "a ideia de que ganha contra tudo e contra todos."

O Presidente da República (PR) - há semanas muito criticado por Rio por ter recebido Rangel quando o processo eleitoral no PSD já estava em curso - disse ontem ter falado com o vencedor para lhe dar os parabéns. Agora, o que interessa, na visão de Marcelo, é que o quadro partidário está estabilizado.

"Era importante que houvesse tempo para aquilo que agora foi terminado, este período antes do pré-eleitoral. Está terminado. Portanto, avança-se serenamente para, mais tarde, o período eleitoral." António Costa também disse ter felicitado Rio - mas aproveitou de imediato para salientar as suas dificuldades: "unir um partido dividido praticamente ao meio" e "afirmar uma solução credível" quando "os principais quadros do partido se opuseram aquilo que ele defende".

joao.p.henriques@dn.pt