TVI suspende rubrica polémica no Você na TV!

Manuel Luís Goucha anunciou que a rubrica "Diga de Sua (In)Justiça", da autoria de Bruno Caetano, foi suspensa pela direção de programas da TVI por quebra de confiança na sequência da polémica entrevista a Mário Machado

A polémica entrevista de Mário Machado, líder do movimento Nova Ordem Social várias vezes condenado por crimes de ódio racial, levou a direção de programas da TVI a suspender a rubrica Diga de Sua (In)Justiça, da autoria de Bruno Caetano, no programa Você na TV!. A confirmação foi deixada pelo apresentador deste programa, Manuel Luís Goucha, na sexta-feira à noite, no programa Deus e o Diabo, de José Eduardo Moniz.

"A direção de programas da TVI decidiu suspender a rubrica por quebra de confiança", anunciou Goucha, admitindo que, de futuro, é preciso ter mais atenção a quem se convida para os programas naquela estação de televisão. Confirmando que o autor do convite a Mário Machado foi Bruno Caetano e não ele, o apresentador disse que soube da vinda do ex-skinhead ao seu programa a 27 ou 28 de dezembro, ou seja, poucos dias antes de o programa ser emitido. O que veio a acontecer no dia 3. Quinta-feira passada.

No entanto, Goucha defende a entrevista que fez a Mário Machado, recusando a forma como foi criticado. "Ele veio ao programa e eu não me recusei a uma conversa que eu assumi em termos de contraditório. Quem viu a conversa não pode dizer que eu não o fiz o trabalho do contraditório. Eu fiz o trabalho de desmontar aqueles argumentos (...) Perante o facto de eu ter um convidado no estúdio, eu não me inibo de falar com ele, mesmo que existam ideias perigosas veiculadas. Eu acho que é assim, em democracia, que se combate as ideias perigosas", declarou o apresentador no programa conduzido por José Eduardo Moniz.

Goucha lamentou ainda a forma como foi condenado em praça pública e pediu alguma honestidade aos que são rápidos a desferir críticas. "Muitos dos comentários que surgiram foram de pessoas que nem sequer viram a conversa (...) Quero lembrar que estas ideias perigosas já não precisam da televisão para singrar. Veja-se o caso de [Jair] Bolsonaro, através das redes sociais e das plataformas digitais", sublinhou.

O post de promoção à entrevista de Mário Machado ao Você na TV!, no âmbito da rubrica Diga de Sua (In) Justiça, continua ainda este sábado visível na página de Facebook do programa. Porém, quando se clica na notícia, surge uma notificação de erro e nada aparece. Os vídeos da entrevista ao ex-líder skinhead já não surgem também no site da estação.

No mesmo tom, o diretor de Informação da TVI, também convidado de José Eduardo Moniz. "A informação da TVI defende a democracia e a TVI faz informação independente e forte. O modelo de sociedade que Mário Machado defende é repugnante. Mas quando é diagnosticado um cancro na sociedade não posso permitir que opinadores inflamados e alguns defensores da moral ataquem quem diagnostica o cancro. Ele existe e já está instalado. Não fomos nós que o criámos", afirmou Sérgio Figueiredo.

Criticando o Sindicato de Jornalistas, que classificou como um grupo de "falsos moralistas" pela queixa apresentada contra a TVI, o diretor de Informação foi particularmente duro com o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, que falou numa atitude incendiária por parte da estação de televisão.

"Vivemos tempos complexos e é preciso ter a noção que uma atitude destas por parte da estação em causa não é muito diferente de quem ateia incêndios pelo prazer de ver as labaredas", escreveu João Cravinho, num texto publicado na sua conta do Twitter. Segundo José Eduardo Moniz, o titular da pasta da Defesa foi convidado para ir esta sexta-feira à noite ao programa Deus e o Diabo, mas alegou indisponibilidade.

"Não venho aqui defender [a TVI], venho apenas esclarecer, respondendo se calhar ao Sr. ministro, uma vez que ele atirou a primeira pedra, lembrando que João Gomes Cravinho integra um governo que ainda há uns meses recusou pedir à organização da Web Summit que retirasse o convite que tinha sido feito a Marine Le Pen [líder da extrema-direita francesa] para fazer um discurso no evento. Pergunto, portanto, se esta senhora não cabe também ela na categoria de incendiários?", afirmou Sérgio Figueiredo.

O responsável pela Informação da TVI sublinhou: "Considero que o ministro da Defesa não tem moral para atirar essa pedra e muito menos para associar o convite a Mário Machado a uma guerra de audiências. Aí posso devolver com a mesma suspeição: será que o dinheiro que a Web Summit traz a Portugal é suficiente para apagar essas labaredas? Julgo que não". E concluiu: "Não podemos fazer falsas hipocrisias".

Este sábado, o embaixador Francisco Seixas da Costa solidarizou-se com o ministro João Gomes Cravinho nas críticas à TVI, num post no Facebook. "Meu caro João Cravinho. Dignifica-o, e dignifica muito o governo a que pertence, ter tido a atitude de cidadania de vir a terreiro denunciar a gravidade daquilo que a TVI fez - e que aquele canal assume ser uma deliberada opção editorial - dando espaço à voz de um sujeito inqualificável, oferecendo-lhe palco para promover miseráveis ideias que, quanto mais não fosse, flagrantemente contrariam a ordem constitucional em que livremente vivemos".

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